Bando que se lançou a respeito dos Índios Jucás: edição e contribuição ao estudo da colonização do Ceará

Autores

  • Miguel Afonso Linhares Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Currais Novos, Rio Grande do Norte, Brasil
  • Expedito Eloísio Ximenes Universidade Estadual do Ceará, Quixadá, Ceará, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v17i2p353-384

Palavras-chave:

Toponímia, Colonização, Ceará

Resumo

Neste estudo, apresentamos uma edição semidiplomática de um bando que Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca, capitão-mor do Ceará, lançou em 28 de setembro de 1767, pelo qual anunciou que a aldeia do Jucá, onde os índios jucás foram reduzidos em 1727, passasse a se chamar lugar de Arneiroz, hoje município. Nele, o autor coloca que a mudança decorreu de uma política pela qual as vilas e lugares novos não deviam ter “nomes bárbaros”, ou seja, de origem indígena, mas nomes das vilas e lugares do “reino”, ou seja, de Portugal. A partir das referências ao contexto histórico que o próprio texto encerra, empreendemos, então, uma pesquisa com o intuito de responder, ou ao menos discutir, a duas perguntas: qual é a origem desta política e como foi executada, especialmente na capitania do Ceará? Expusemos o que pudemos apurar em três seções além das considerações iniciais e da edição do documento: considerações codicológicas, diplomáticas e textuais, que além de informarem sobre o estado e a localização do documento, são relevantes por o gênero textual, o bando, estar obsoleto; e considerações históricas, nas quais procuramos esmiuçar as referências ao contexto histórico contidas no próprio texto, como subsídio para as respostas às perguntas norteadoras. Nas considerações finais, evidenciamos que compartilhamos do entendimento de que nomear um lugar não é simplesmente referenciar o espaço, mas é um ato político, imbuído de poder e cultura, atravessado por ideologia(s), que no caso estudado perfez o espólio do mundo indígena, que começou pela religião.

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Biografia do Autor

  • Miguel Afonso Linhares, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Currais Novos, Rio Grande do Norte, Brasil
    Possui graduação em Letras com habilitação em Português, Espanhol e Literatura pela Universidade Federal do Ceará (2007), especialização em Filologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2011) e Mestrado em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual do Ceará (2014). Atualmente é Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Câmpus Currais Novos, com colaboração no Câmpus Natal - Central. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Espanhola, Língua Latina e Filologia Românica.
  • Expedito Eloísio Ximenes, Universidade Estadual do Ceará, Quixadá, Ceará, Brasil
    Possui graduação em Letras pela Universidade Estadual do Ceará (1997), mestrado em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (2004), doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (2009), com quatro meses de estágio na Universidade de Lisboa e especialização em Filologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2011). Atualmente é professor adjunto nível I da Universidade Estadual do Ceará, campus de Quixadá, atuando principalmente nos seguintes temas: Língua Latina, Língua Portuguesa, Linguística Histórica, Filologia Românica, Edição e análise de textos manuscritos. É vice-líder do grupo de pesquisa TRADICE e do grupo de Crítica Textual. É líder do grupo de pesquisa PRAETECE.

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Publicado

2016-04-07

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Bando que se lançou a respeito dos Índios Jucás: edição e contribuição ao estudo da colonização do Ceará. (2016). Filologia E Linguística Portuguesa, 17(2), 353-384. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v17i2p353-384