Cidades resilientes e a disputa sobre o discurso da agenda de redução de riscos e desastres

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2023.200724

Palavras-chave:

resiliência a desastres, cidades resilientes, ecologia urbana

Resumo

Resiliência é um conceito que busca refletir sobre como lidar com as dinâmicas que surgem após perturbações causadas por um evento natural perigoso (como deslizamentos). Ela surge como um conceito-chave para se pensar formas de recuperação e reconstrução que buscam não somente retornar à normalidade pré-desastre, mas questionar e superar a vulnerabilidade das populações expostas. A partir do método de análise de discurso pecheutiana, problematiza-se o conceito de cidades resilientes, mobilizado como um signo de capital fictício na era da financeirização da moradia e do espaço urbano, transformando os desastres ambientais e a crise climática em mais um modelo de negócios. Resgatando o significado da resiliência socioecológica, e articulando-o às práticas socioespaciais da resistência e aos espaços comuns, torna-se possível pensar a resiliência a desastres não como uma categoria neoliberal, mas como uma prática social, política e coletiva de adaptação e mitigação às mudanças climáticas globais.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Talita Gantus-Oliveira, Unicamp

    Engenheira Geóloga pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e Mestra em Geologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com dissertação na linha de pesquisa Geologia Ambiental. Doutora em Geociências pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com tese na linha de pesquisa Política e Gestão dos Recursos Naturais. Pesquisadora no Grupo de Pesquisa e Ação em Conflitos, Riscos e Impactos Associados a Barragens - CRIAB (IdEA/UNICAMP) e no Grupo de Pesquisa em Geologia de Engenharia e Ambiental e Gestão de Riscos (CNPq/UNICAMP). Atualmente, está cursando Especialização em Jornalismo Científico no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LABJOR/UNICAMP).

Referências

ADGER, W. N. Vulnerability. Global Environmental Change, v. 16, n. 3, p. 268–281, 2006.

AKOTIRENE, C. Interseccionalidade. 1a ed. São Paulo: Editora Jandaíra, 2020. v. 1

BANCO MUNDIAL. Lidando com Perdas: Opções de Proteção Financeira contra Desastres no Brasil. Washington DC: [s.n.].

BANHOLZER, S.; KOSSIN, J.; DONNER, S. The Impact of Climate Change on Natural Disasters. In: Reducing Disaster: Early Warning Systems For Climate Change. Dordrecht: Springer Netherlands, 2014. p. 21–49.

BENEVOLENZA, M. A.; DERIGNE, L. The impact of climate change and natural disasters on vulnerable populations: A systematic review of literature. Journal of Human Behavior in the Social Environment, v. 29, n. 2, p. 266–281, 17 fev. 2019.

BERKE, P. R.; CAMPANELLA, T. J. Planning for Postdisaster Resiliency. The Annals of the American Academy of Political and Social Science, v. 604, n. 1, p. 192–207, 2006.

BERKES, F.; COLDING, J.; FOLKE, C. (EDS.). Navigating social-ecological systems: building resilience for complexity and change. [s.l.] Cambridge University Press, 2003.

BERKES, F.; FOLKE, C. Linking social and ecological systems for resilience and sustainability. In: Linking social and ecological systems: management practices and social mechanisms for building resilience. 1. ed. [s.l: s.n.]. p. 4.

BINDER, C. R. et al. Comparison of frameworks for analyzing social-ecological systems. Ecology and Society, v. 18, n. 4, 2013.

CUTTER, S. L. The Vulnerability of Science and the Science of Vulnerability. Annals of the Association of American Geographers, p. 1–12, 2003.

CUTTER, S. L. et al. A place-based model for understanding community resilience to natural disasters. Global Environmental Change, v. 18, p. 598–606, 2008.

CUTTER, S. L. Resilience to What? Resilience for Whom? Geographical JournalBlackwell Publishing Ltd, , 1 jun. 2016.

CUTTER, S. L. Community resilience, natural hazards, and climate change: Is the present a prologue to the future? Norsk Geografisk Tidsskrift, v. 0, n. 0, p. 1–9, 2019.

CUTTER, S. L.; ASH, K. D.; EMRICH, C. T. The geographies of community disaster resilience. Global Environmental Change, v. 29, p. 65–77, 2014.

CUTTER, S. L.; BORUFF, B. J.; SHIRLEY, W. L. Social vulnerability to environmental hazards. Social Science Quarterly, v. 84, n. 2, p. 242–261, 2003.

DE SOUSA SANTOS, B. Um discurso sobre as ciências. In: 4a edição. 4a edição ed. São Paulo: [s.n.]. p. 31–70.

FEDERICI, S. O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. 1a ed. São Paulo: Editora Elefante, 2019. v. 1

FERREIRA, K. A. Resiliência Urbana e a Gestão de Riscos de Escorregamentos: Uma Avaliação da Defesa Civil do Município de Santos - SP. [s.l.] Universidade de São Paulo, 2016.

FOLKE, C.; COLDING, J.; BERKES, F. Building resilience and adaptive capacity in social-ecological systems. In: Navigating social-ecological systems: Building resilience for complexity and change. [s.l: s.n.]. v. 9p. 352–387.

FOSTER, J. B. A ecologia de Marx: materialismo e natureza. , 2005.

GARCÍA-ACOSTA, V. La historia del concepto de desnaturalización de desastres. Ciência & Trópico, v. 45, n. 2, 29 dez. 2021.

GONZALEZ, L. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. 1a ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. v. 1

GOTTDIENER, M. The social production of urban space. [s.l.] University of Texas Press, 2010.

HARVEY, D. 17 contradições e o fim do capitalismo. 1a edição ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2017.

HARVEY, D. The limits to capital. 4a ed. [s.l.] Verso Trade, 2018.

HOLLING, C. S. Resilience and stability of ecological systems. Annual review of ecology and systematics, v. 4, n. 1, p. 1–23, 1973.

HOPKINS, R. W. From the New England Society for Vascular Surgery Presidential address: “Single vision and Newton’’ s sleep".” Journal of Vascular Surgery, p. 777–784, 1991.

KUHLICKE, C. Resilience: A capacity and a myth: Findings from an in-depth case study in disaster management research. Natural Hazards, v. 67, n. 1, p. 61–76, 2013.

LEFEBVRE, H. A produção do espaço. 4a ed. Paris: Éditions Anthropos, 2000.

MANYENA, S. B. The concept of resilience revisited. Disasters, v. 30, n. 4, p. 433–450, 2006.

MARX, K. O capital - Livro 1: Crítica da economia política. [s.l.] Boitempo Editorial, 2015.

MORENO, C. As roupas verdes do rei. In: FILHO, J. P.; BREDA, T. (Eds.). Descolonizar o imaginário. 1.ed. ed. São Paulo: Fundação Rosa Luxemburgo, 2016. p. 468.

NANTEZON, C.; PARKINSON, A. V. S. B. ¿Por qué continúa la naturalización de los desastres? Algunas indagaciones desde una perspectiva de la vulnerabilidad social y el Derecho. Ciência & Trópico, v. 45, n. 2, 29 dez. 2021.

ORLANDI, E. P. Análise de Discurso - Princípios & Procedimentos. 1a ed. Campinas: Pontes, 2012.

PAIDAKAKI, A.; MOULAERT, F. Does the post-disaster resilient city really exist? A critical analysis of the heterogeneous transformative capacities of housing reconstruction’resilience cells’. International Journal of Disaster Resilience in the Built Environment, v. 8, p. 275–291, 2017.

PRIOR, T.; HAGMANN, J. Measuring resilience: Methodological and political challenges of a trend security concept. Journal of Risk Research, v. 17, n. 3, p. 281–298, 2014.

RIBEIRO, F. V. A prática socioespacial da resistência. In: CARLOS, A. F. A.; SANTOS, C. S.; ALVAREZ, I. P. (Eds.). Geografia urbana crítica: teoria e método. 1a ed. São Paulo: Editora Contexto, 2018. v. 1p. 53–64.

ROLNIK, R. Urban warfare: housing under the empire of finance. 1a ed. [s.l.] Verso Trade, 2019.

SAFATLE, V. O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo. São Paulo: Editora Autêntica, 2016.

SAITO, K. O ecossocialismo de Karl Marx: capitalismo, natureza e a crítica inacabada à economia política. 1a ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2021. v. 1

THE ECONOMIST. Safe Cities Index, 2021. Disponível em: <https://safecities.economist.com/safe-cities-2021-whitepaper/>

TURNER, B. L. et al. A framework for vulnerability analysis in sustainability science. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 100, n. 14, p. 8074–8079, 2003.

TURNER, B. L. Vulnerability and resilience: Coalescing or paralleling approaches for sustainability science? Global Environmental Change, v. 20, n. 4, p. 570–576, 2010.

UNISDR. Living with risk: a global review of disaster reduction initiatives. International Strategy for Disaster Reduction (ISDR). Anais...2004. Disponível em: <https://www.unisdr.org/we/inform/publications/657>

UNISDR. Como Construir Cidades Mais Resilientes: um guia para líderes do governo local. Genebra: UN Office for Disaster Risk Reduction, 2012. Disponível em: <http://www.unisdr.org/files/26462_guiagestorespublicosweb.pdf>

WELSH, M. Resilience and responsibility: Governing uncertainty in a complex world. Geographical Journal, v. 180, n. 1, p. 15–26, 2014.

WILCHES-CHAUX, G. La vulnerabilidad global. In: MASKREY, A. (Ed.). Los desastres no son naturales. [s.l.] La Red - Red de Estudios Sociales en Prevención de Desastres en América Latina, 1993. p. 1–140.

Publicado

2023-12-21

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

GANTUS-OLIVEIRA, Talita. Cidades resilientes e a disputa sobre o discurso da agenda de redução de riscos e desastres. GEOUSP Espaço e Tempo (Online), São Paulo, Brasil, v. 27, n. 3, 2023. DOI: 10.11606/issn.2179-0892.geousp.2023.200724. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/200724.. Acesso em: 27 abr. 2024.