Distopia e protagonismo da trabalhadora doméstica no romance Luxúria, de Fernando Bonassi
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2525-8133.opiniaes.2023.206807Palavras-chave:
Trabalho doméstico, Estereotipia, Subalternidade, Distopia, LuxúriaResumo
Partindo do pressuposto de que apesar de ser uma das mais numerosas classes laborais do Brasil, a trabalhadora doméstica é historicamente sub-representada na ficção nacional, ou representada seguindo modelos estereotipados, este trabalho analisa a presença da personagem diarista no romance distópico Luxúria, de Fernando Bonassi (2015). Em princípio uma personagem coadjuvante, sem ter sequer um nome – uma das características recorrentes das trabalhadoras domésticas em romances brasileiros do século XX – a personagem assume o protagonismo no enredo, o que é uma novidade tardia na história literária brasileira, facilitada pelas características do gênero distópico. Ao exacerbar a ultrassubjetividade (FEATHERSTONE, 2017) da personagem, uma subjetividade cindida porque nem sequer é experimentada, muito própria dos trabalhadores precarizados na contemporaneidade, o narrador tensiona sobre a personagem toda uma pesada carga de violência e desconforto da distopia, aqui entendida como recriação estética do tempo presente. Assim, vítima de toda a exploração da história narrada, relegada a um espaço de invisibilidade pelos seus patrões, a personagem acaba sendo deslocada para o centro da narrativa por força do gênero literário, guardando a chave de leitura do romance.
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