A cor do som: construção de alteridade e racialidade na fonografia brasileira em 78 rotações, na primeira metade do século XX

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2023.200561

Palavras-chave:

fonografia brasileira, racialidade, alteridade, 78 rotações, indústria fonográfica

Resumo

Partindo do problema central da produção de alteridades como elemento-chave na constituição do mundo moderno, e seguindo a perspectiva aberta por Jennifer Stoever e seu conceito de “linha de cor sonora”, o artigo tem foco na indústria fonográfica brasileira em seus primeiros estágios de desenvolvimento. Busca-se problematizá-la como um lugar de fixação e reverberação de representações sonoras raciais e étnicas, materializadas em fonogramas de 78 rotações gravados nas primeiras quatro décadas do século XX por cantores, músicos e compositores negros. Argumenta-se que a dinâmica de incorporação desses músicos no sistema de entretenimento alimentado pelas indústrias fonográficas do período passava necessariamente pela exploração de estereótipos em que elementos como etnicidade, comicidade, sensualidade, primitivismo e exotismo exerciam papel central, elaborados precedentemente em registros literários e musicais.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Maya Suemi Lemos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Doutora em História da Música e Musicologia pela Université de Paris IV – Sorbonne (França), Professora Associada no Departamento de Formação Humana com Tecnologias, Instituto de Formação Humana com Tecnologias, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil.

  • Pedro Aragão, Universidade de Aveiro - INET-md

    Doutor em Musicologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Investigador Equiparado a Auxiliar da Universidade de Aveiro (Portugal). Professor Adjunto do Departamento de Educação Musical, Instituto Villa-Lobos, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil.

Referências

Fontes

ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um Sargento de Milícias. 1854.

A. P. D. G. Sketches of Portuguese Life, manners, costume, and character. London: printed for Geo. B. Whittaker: printed by R. Gilbert, 1826. Disponível em: https://purl.pt/14638/1/index.html#/1/html. Acesso em: 29 jul. 2022.

BARBOSA, Domingos Caldas. Viola de Lereno. Volume segundo. Lisboa: Tipografia Lacerdina, 1826. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4341. Acesso em: 29 jul. 2022.

Referências bibliográficas

ABREU, Martha. Da senzala ao palco: canções escravas e racismo nas Américas, 1870-1930. Campinas: Editora da Unicamp, 2017.

ABRIL, Omar Morales. Villancicos de remedo en la Nueva España. In: TELLO, Aurelio (org.). Humor, pericia y devoción: villancicos en la Nueva España. México: CIESAS, 2013, p. 11-38.

ANDRADE, Mário de. Cândido Inácio da Silva e o Lundu. Latin American Music Review / Revista de Música Latinoamericana, v. 20, n. 2, p. 215-233, Autumn-Winter, 1999 [1944].

ARAGÃO, Pedro. Diálogos luso-brasileiros no Acervo José Moças da Universidade de Aveiro: um estudo exploratório das gravações mecânicas (1902-1927). Opus, v. 22, n. 2, p. 83-114, dez. 2016.

ARAÚJO, Anderson Leon Almeida de. “Sou da macumba e no feitiço não tenho rival” – A música negra de J. B. de Carvalho e do Conjunto Tupy (1931-1941). Dissertação de mestrado em História, Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2015.

ARCANGELI, Alessandro. L’altro che danza. Il villano, il selvaggio, la strega nell’immaginario della prima età moderna. Milão: Unicopli, 2018.

ASSUNÇÃO, Luiz. A transgressão no religioso: Exus e mestres nos rituais da Umbanda. Revista Anthropológicas, ano 14, v. 21, n. 1, p. 157-183, 2010.

AUGRAS, Monique. Zé Pelintra, patrono da malandragem. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 25, p. 43-50, 1997.

BARTRA, Roger. El mito del salvaje. México: Fondo de Cultura Económica, 2011.

BARTRA. Roger. Wild men in the looking glass: the mythic origins of European otherness. S. l.: The University of Michigan Press, 1994.

BERBARA, Maria; MENEZES, Renato; HUE, Sheila (org.). França Antártica – ensaios interdisciplinares. Campinas: Editora Unicamp, 2020.

BORN, Georgina; HESMONDAGH, David. Western music and its others: difference, representation and appropriation in music. [S. l.]: University of California Press, 2000.

CLARK, Stuart. Pensando com demônios: a ideia de bruxaria no princípio da Europa Moderna. São Paulo: EDUSP, 2006.

COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019.

COSTA, Ligiana. “Non per tutto l’età m’aggrinza”: le vecchie comiche nell’opera veneziana del Seicento. Tese de doutorado em Musicologia, Université de Tours (Université Francois Rabelais), 2008.

DIONISOTTI, Carlo. Geografia e storia della letteratura italiana. Torino: Einaudi, 1999.

EFEGÊ, Jota. Maxixe, a dança excomungada. Rio de Janeiro: Conquista, 1974.

EUGENIO, Rodney William. Saravá Seu Zé. Carta Capital, [s. l.], 5 out. 2018, seção “Diálogos da fé”, n.p. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/sarava-seu-ze/. Acesso em: 20 jan. 2023.

FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpos e acumulação primitiva. São Paulo: Editora Elefante, 2019.

FOLENA, Gianfranco. Il linguaggio del caos. Studi sul plurilinguismo rinascimentale. Torino: Bollati Boringhieri, 1991.

FRANCESCHI, Humberto. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro, Sarapuí, 2002.

GABANI, Michelle Suzana de Almeida; SERBENA, Carlos Augusto. Exu: um trickster solto no “terreiro” psíquico. Relegens Thréskeia – estudos e pesquisa em religião, v. 4, n. 2, p. 52-70, 2015.

GERBINO, Giuseppe. The madrigal and its outcasts: Marenzio, Giovannelli, and the Revival of Sannazaro’s Arcadia. The Journal of Musicology, v. 21, n. 1, p. 3-45, 2004. Disponível em: https://online.ucpress.edu/jm/article-abstract/21/1/3/63373/The-Madrigal-and-its-Outcasts-Marenzio-Giovannelli?redirectedFrom=fulltext. Acesso em: 29 jul. 2022.

GITELMAN, Lisa. Scripts, grooves, and writing machines: representing technology in the Edison Era. Stanford, CA: Stanford University Press, 1999.

KRUTITSKAYA, Anastasia. Villancicos que se cantaron en la catedral de México (1693-1729). México: Universidad Nacional Autónoma de México-Instituto de Investigaciones Filológicas, 2018.

LARA, Silvia Hunold; PACHECO, Gustavo (org.). Memória do Jongo: as gravações históricas de Stanley J. Stein, Vassouras, 1949. Rio de Janeiro: Folha Seca; Campinas: CECULT, 2007.

LAVOCAT, Françoise. La syrinx au bûcher. Pan et les satyres à la Renaissance et à l’âge baroque. Genève: Droz, 2005.

LEMOS, Maya Suemi; Viegas, Rafael. A Flauta do Pastor: retórica do natural, cultivo do artifício. Figura: Studies on the Classical Tradition, Campinas/SP, v. 9, n. 2, 2021, p. 28-68. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/figura/article/view/15809. Acesso em: 29 jul. 2022.

LESTRINGANT, Frank. Le Cannibale, grandeur et décadence. Paris: Perrin, 1994.

LIPSKI, John M. Literary ‘africanized’ spanish as a research tool: dating consonant reduction. Romance Philology, v. 49, n. 2, nov. 1995.

LOPES, Nei. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo: Selo Negro, 2011 [2004].

LOPES, Nei. Novo Dicionário Banto do Brasil: contendo mais de 250 propostas etimológicas acolhidas pelo Dicionário Houaiss. Rio de Janeiro: Pallas, 2003.

LOPES, Rui Cabral. Ensaya a dança y prosigue: ethnicity and exoticism in the villancicos de negros of the Portuguese Royal Chapel during the seventeenth century. Revista Brasileira de Música, Programa de Pós-graduação em Música, Rio de Janeiro, v. 30, n. 1, p. 73-95, jan./jun. 2017.

LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza (org.). O português afro-brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2009.

LUDLOW, Úrsula Camba. Imaginarios ambiguos, realidades contradictorias. Conducta y representaciones de los negros y mulatos novohispanos. Siglos XVI y XVII. México: El Colegio de México, 2008.

MALDONADO TORRES, Nelson. La descolonización y el giro des-colonial. Tabula Rasa, v. 9, p. 61-72. Disponível em https://revistas.unicolmayor.edu.co/index.php/tabularasa/article/view/1502. Acesso em: 29 jul. 2022.

MELLO, Guilherme de: A música no Brasil desde os tempos coloniais até o primeiro decênio da República. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1947 [1908].

MUKUNA, Kazadi Wa. Contribuição bantu na música popular brasileira: perspectivas etnomuseológicas. São Paulo: Terceira Margem, 2000.

PEREIRA, Julia. Do Catimbó aos Terreiros. Como Zé Pelintra chega na Umbanda. Blog Umbanda EAD, Instituto Cultural Aruanda. [S. d.]. Disponível em: https://umbandaead.blog.br/2016/11/30/e-malandro-e-exu-e-baiano-quem-e-ze-pelintra-na-umbanda/. Acesso em: 20 jan. 2023.

PETER, Margarida Maria Taddoni. Intolerância linguística e resistência: a questão do negro. Diversitas, Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos (FFLCH/USP). Disponível em: https://diversitas.fflch.usp.br/intolerancia-linguistica-e-resistencia-questao-do-negro. Acesso em: 29 jul. 2022.

PIERI, Marzia. La scena boschereccia nel Rinascimento italiano. [S. l.]: Cue Press, 2020.

PORRAS, Jorge E. Mexican bozal spanish in sor Juana Inés de la Cruz’s Villancicos: a linguistic and sociolinguistic account. The Journal of Pan African Studies, v. 6, n. 1, Jul 2013.

QUEIROZ, Sônia. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da Tabatinga. Belo Horizonte: UFMG, 2018.

RIBEIRO, José. Catimbó de Zé Pilintra: mistério, magia, feitiço. [S. l.]: Editora Espiritualista, 1974.

SAID, Edward. Orientalism. New York: Pantheon, 1978.

SANDRONI, Carlos. Feitiço decente. Transformações do samba no Rio de Janeiro (1917-1933). Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

SANTAMARÍA, Carolina. Negrillas, negros y guineos y la representación musical de lo africano. Cuadernos de Música, Artes Visuales y Artes Escénicas, Bogotá, D.C. (Colombia), v. 2, n. 1, p. 4-20, oct. 2005-mar. 2006.

SAWAYA, Luiza. Domingos Caldas Barbosa – para além da Viola de Lereno. Dissertação de Mestrado em Letras, Estudos Românicos, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, Departamento de Estudos Românicos, 2011.

SCANNAPIECO, Ana. Così lontani, così vicini. Villani a teatro da Ruzante a Fumoso (primi appunti). Quaderni Veneti, v. 6, n. 1, Giugno 2017. Disponível em: https://edizionicafoscari.unive.it/it/edizioni/riviste/quaderni-veneti/2017/1numero-monografico/cosi-lontani-cosi-vicini/. Acesso em: 29 jul. 2022.

SINGER, Deborah. Políticas de inclusión/prácticas de subalternización: la construcción de etnicidad en los villancicos de negros de la Catedral de Santiago de Guatemala (siglos XVI-XVIII). Revista de Historia, n. 80, Jul.-Dic. 2019, p. 11-32.

SOUZA, Laura de Mello e. Inferno Atlântico: demonologia e colonização: séculos XVI-XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Foreword: Upon Reading the Companion to Postcolonial Studies. In: SCHWARTZ, Henry; RAY, Sangeeta (ed.). A companion to postcolonial studies. Oxford: Blackwell Publishing, 2005 [2000].

STOEVER, Jennifer. The sonic color line: race and the cultural politics of listening. New York: New York University Press, 2016.

SUBIRÁ, José. El villancico literario-musical: bosquejos históricos. Revista de Literatura, v. 22, n. 43-44, p. 5-27, dic. 1992.

SWIADON, Martínez, Glenn. África en los villancicos de negro, seis ejemplos del siglo XVII. In: MASERA, Mariana (coord.). La otra nueva España: la palabra marginada en la Colonia. Barcelona: Azul-Universidad Nacional Autónoma de México, 2002.

TATSCH, Flavia Galli. A construção da imagem visual da América: gravuras dos séculos XV e XVI. Tese de doutorado, Departamento de História, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, 2011.

TINHORÃO, José Ramos. Música popular de negros, índios e mestiços. Petrópolis: Vozes, 1972.

TINHORÃO, José Ramos. Pequena história da música popular. São Paulo: Art Editora, 1986.

URIBE, Claudio Ramírez. “Villancicos guineos, miradas imaginarias”. Expresiones afrodescendientes en el México novohispano. Música oral del Sur, n. 17, Año 2020, p. 323-358.

VASCONCELOS, Ary. Panorama da música popular brasileira na Belle Époque. Rio de Janeiro: Livraria Santanna, 1977.

VICENTE, Eduardo; MARCHI, Leonardo. Por uma história da indústria fonográfica no Brasil 1900-2010: uma contribuição desde a comunicação social. Música Popular em Revista, Campinas, ano 3, v. 1, p. 7-36, jul.-dez. 2014.

Publicado

2023-12-01

Edição

Seção

Dossiê História e Culturas Sonoras

Como Citar

LEMOS, Maya Suemi; ARAGÃO, Pedro de Moura. A cor do som: construção de alteridade e racialidade na fonografia brasileira em 78 rotações, na primeira metade do século XX. Revista de História, São Paulo, n. 182, p. 1–36, 2023. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.rh.2023.200561. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/200561.. Acesso em: 27 abr. 2024.

Dados de financiamento