Histórias emaranhadas, arquivos subterrâneos: relações multiespécies nas paisagens do baixo rio Madeira

Autores

  • Marta Amoroso Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v32i2pe215764

Palavras-chave:

Mura, paisagens, casimirella spp, temporalidades

Resumo

Neste artigo, chamo a atenção para as trilhas e caminhos que conectam e permeiam o território mura e pirahã e destaco aspectos - obliterados na literatura especializada - de relacionalidades multiespecíficas impressas nas paisagens, que os Mura acionam mais recentemente em suas lutas, sendo uma delas a retomada da língua mura. Inicio focalizando o fosso que separou os Mura dos Pirahã, abismo construído por políticas indigenistas, divisor baseado na apreensão que diferentes experiências de contato desses coletivos foram suficientes para afastá-los. As classificações do indigenismo, baseadas na diferenciação linguística, cultural e no processo de etnificação são revistas, para o que retomo a crítica à noção de aculturação construída por Peter Gow. A atenção aos regimes multiespecíficos de relações com plantas, animais e a atenção para a presença dos mortos que participam da construção da floresta sugere pensarmos tais coletivos indígenas enquanto conjuntos, já que se reportam a experiências de relacionalidades antigas e atuais, e se entendem como constituindo uma rede de trocas que deixa vestígios nas paisagens.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Marta Amoroso, Universidade de São Paulo

    Professora de Antropologia da Universidade de São Paulo e pesquisadora do Centro de Estudos Ameríndios CEstA.USP.

Referências

ALARCON, Daniela. 2019. O retorno da terra: as retomadas na aldeia tupinambá da Serra do Padeiro, sul da Bahia. São Paulo: Elefante.

AMOROSO, Marta. 1992. “Corsários no caminho fluvial: os Mura do rio Madeira”. In História dos Índios no Brasil, organizado por Manuela CARNEIRO DA CUNHA. São Paulo: FAPESP/SMC/Cia. das Letras.

AMOROSO, Marta. 2000a. Relatório circunstanciado de identificação e delimitação da T. I. Cunha-Sapucaia, Brasília: FUNAI.

AMOROSO, Marta. 2000b. “Os Mura tentam recuperar terras loteadas e reduzidas no passado”, In Povos Indígenas no Brasil 1996-2000, organizado por Carlos Alberto RICARDO, 465-468. São Paulo: Instituto Socioambiental/ISA.

AMOROSO, Marta. 2013. “O nascimento da aldeia mura. Sentidos e modos de habitar a beira”. In Paisagens ameríndias. Lugares, circuitos e modos de vida na Amazônia, organizado por Marta AMOROSO; Gilton MENDES DOS SANTOS. São Paulo: Terceiro Nome.

AMOROSO, Marta. 2016. “Impasses do ambientalismo no Baixo Madeira: O caso mura”. In Antropologia da ciência e da tecnologia: dobras reflexivas, organizado por Claudia FONSECA; Fabíola ROHDEN; Paula S. MACHADO; Heloísa. S. PAIM. Porto Alegre: Sulina, 2016.

AMOROSO, Marta. 2020. “A descoberta do manhafã. Seguindo as trilhas da floresta com os Mura”. In Vozes vegetais. Diversidade, Resistências e Histórias da Floresta, organizado por Joana CABRAL DE OLIVEIRA; Marta AMOROSO; Ana Gabriela M. DE LIMA; Karen SHIRATORI; Stelio MARRAS; Laure EMPRERAIRE, 167-86. São Paulo: Ubu; Paris: PALOC (IRD/MNHN).

APARICIO, Miguel. 2019. A relação banawá. Socialidade e transformação nos arawá do Purus. Tese (Doutorado) - Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

APARICIO, Miguel. 2020. “Contradomesticação na Amazônia indígena: a botânica da precaução”, In Vozes vegetais. Diversidade, Resistências e Histórias da Floresta, organizado por Joana CABRAL DE OLIVEIRA; Marta AMOROSO; Ana Gabriela M. DE LIMA; Karen SHIRATORI; Stelio MARRAS; Laure EMPRERAIRE, 189-212. São Paulo: Ubu; Paris: PALOC (IRD/MNHN).

BATESON, G. 1936. Naven: A Survey of the Problems suggested by a Composite Picture of the Culture of a New Guinea Tribe drawn from Three Points of View. Palo Alto: Stanford University Press.

CABRAL DE OLIVEIRA. J. 2016. “Mundos de roça e floresta”. Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, 11, no. 1: 115-31. DOI: doi.org/10.1590/1981.81222016000100007.

CANGUSSU ALVES, Daniel R. 2021. Manual Indigenista Mateiro. Princípios de botânica e arqueologia aplicados ao monitoramento e proteção dos territórios dos povos indígenas isolados na Amazônia. Dissertação (Mestrado) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus.

CARNEIRO DA CUNHA, M. 2019. “Antidomestication in the Amazon. Swidden and its foes”. HAU: Journal of Ethnographic Theory, 9, no.1: 126–136. https://doi.org/10.1086/703870.

CLEMENT, C. R. 1999. “1492 and the loss of Amazonian crop genetic resources. II. Crop biogeography at contact”. Economic Botany, 53, 203–216. https://doi.org/10.1007/BF02866499.

CLEMENT, Charles; DENEVAN, W. M.; HECKENBERGER, Michael; Junqueira, André; NEVES, Eduardo; TEIXEIRA, W. and WOODS, W. I. 2015. “The domestication of Amazonia before European conquest”. Proceedings of the Royal Society Biological Sciences, 282 (1812), 20150813. https://doi.org/10.1098/rspb.2015.0813.

EVERETT, Daniel. 1978. Aspectos da Fonologia Pirahã. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade de Campinas, Campinas.

FAUSTO, Carlos; NEVES, Eduardo. 2018. “Was there ever a Neolithic in the Neotropics? Plant familiarization and biodiversity in the Amazon”. Antiquity, 92, 366, 1604-1618. https://doi.org/10.15184/aqy.2018.157.

FILENO, Fernando Augusto. 2018. No seio do rio: Linhas que casam, que curam e que dançam. Parentesco e corporalidade entre os Mura do Igapó-Açu. São Paulo: Alameda.

GOLDMAN, Márcio. 2015. “Quinhentos anos de contato. Por uma teoria etnográfica da (contra) mestiçagem”, Mana 21, no. 3: p641. https://doi.org/10.1590/0104-93132015v21n3p641.

GONÇALVES, Marco Antonio. 1993. O significado do Nome. Cosmologia e nominação entre os Pirahã. Rio de Janeiro: Sette Letras.

GONÇALVES, Marco Antonio. 2003. O Mundo Inacabado. Ação e criação em uma cosmologia amazônica. Etnografia Pirahã. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ.

GOW, Peter. 1991. Of Mixed Blood: Kinship and History in Peruvian Amazonia. Oxford and London.

GOW, Peter. 2003. "Ex-cocama": identidades em transformação na Amazônia peruana. Mana: Estudos de Antropologia Social, 9, no. 1, Rio de Janeiro: Museu Nacional.

GOW, Peter. 2010. “Um cline mítico na América do Sul Ocidental. Explorando um conjunto lévi-straussiano “. Tellus, 10, no. 18: 11-38. Campo Grande: Universidade Católica Dom Bosco.

GOW, Peter. 2011. “‘Me deixa em paz!’ Um relato etnográfico preliminar sobre o isolamento voluntário dos Mashco”. Revista de Antropologia, 54, no. 1: 11-46. São Paulo: Universidade de São Paulo.

GOW, Peter. 2015. “Steps towards an ethnographic theory of acculturation.” Etnografia. Praktyki, Teorie, Doświadczenia, 1, 34–39. Gdańsk: Instytut Archeologii i Etnologii.

GOW, Peter. 2018. “Who are these wild Indians”: on the foreign policies of some voluntarily isolated peoples in Amazonia.

TIPITÍ: Journal of the Society for the Anthropology of Lowland South America, 16, no. 1: 6-20.

HANKE, Wanda. 1950. “Vocabulário e idioma Mura dos Índios Mura do Rio Manicoré”. Coletânea de Documentos para a História do Amazonas. Ano 3. Vol. XII. Manaus.

HENRICHS, Arlo L. 1964. Os fonemas do Mura-Pirahã. Boletim do MPEG, Série Antropologia, no. 21. Belém.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2023. Censo 2022. Brasília: IBGE.

KELLY, José Antonio; MATOS, Marcos de Almeida. 2019. “Política da consideração. Ação e influência nas terras baixas da América do Sul”. Mana, 25, no. 2: 391–426. https://doi.org/10.1590/1678–4944 2019v25n2p391.

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1971. L’Homme nu. Paris: Plon.

LIMA, Tânia Stolze. 2005. Um peixe olhou para mim. O povo Yudjá e a perspectiva. São Paulo: Editora UNESP: ISA: Rio de Janeiro: NUTI.

MATOS, Beatriz. 2017. “Caminhos e malocas. Conjuntos na Amazônia Ocidental”, Revista de @ntropologia da UFSCar, 9, no. 1, jan./jun. 2017.

MENDES DOS SANTOS, Gilton. 2016. “Plantas e Parentelas: Notas sobre a história da agricultura no Médio Purus”. In Redes Arawa, Ensaios de Etnologia do Médio Purus, organizado por Gilton MENDES DOS SANTOS; Miguel APARICIO, 19-39. Manaus: EDUA.

MENDES DOS SANTOS, Gilton. 2020. “Transformar as plantas cultivar o corpo In Vozes vegetais. Diversidade, Resistências e Histórias da Floresta, organizado por Joana CABRAL DE OLIVEIRA; Marta AMOROSO; Ana Gabriela M. DE LIMA; Karen SHIRATORI; Stelio MARRAS; Laure EMPRERAIRE, 140-153.

MENDES DOS SANTOS, Gilton. 2022. “A gigante da floresta – uma breve descrição sobre a batata mairá (Casimirella sp) na Amazônia indígena”. Maloca – Revista de Estudos Indígenas Campinas, 5, e022008.

MENDES DOS SANTOS, Gilton; ALVES, Daniel Cangussu; FURQUIM, Laura; WATLING, Jennifer; NEVES, Eduardo Goes. 2021. “Pão-de-índio e massas vegetais: elos entre passado e presente na Amazônia indígena”. Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, 16, no. 1.

MOREIRA NETO, Carlos de Araújo. 1988. Índios da Amazônia: da Maioria a Minoria (1750-1850). Petrópolis: Vozes.

MOREIRA SANTOS, Ana Flávia. 2009. Conflitos fundiários, territorialização e disputas classificatórias. Autazes, (AM), primeiras décadas do século XX. Tese (Doutorado) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

NIMUENDAJÚ, Curt. [1925] 1982. “As tribos do Alto Madeira”. In: Textos Indigenistas. São Paulo: Edições Loyola.

NUNES, Eduardo S. 2019. “Território e Participação: Lévy-Bruhl no país dos Karajá.” DOSSIÊ: Cosmopolíticas da terra contra os limites da territorialização. ILHA, 21, no. 1: 6-20.

RIBEIRO, Ricardo. 2018. “Estudo etnobotânico e físico-químico da batata-mairá (Casimirella spp. icacinaceae)”. Dissertação (Mestrado) - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus.

RODRIGUES, João Barbosa. 1975. A Exploração dos Rios Urubu e Jatapu, Valle do Amazonas. Rio de Janeiro, Typographia Nacional.

ROMANO, Adriana Athila. 1998. Índios de verdade. Territorialidade, história e diferença entre os Mura da Amazônia Meridional. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

SAUTCHUK. 2018. “Os antropólogos e a domesticação, derivações e ressurgências de um conceito”, In Políticas etnográficas no campo da ciência e das tecnologias da vida, organizado por Jean SEGATA; Theophilos RIFIOTIS, 85-108. Porto Alegre : UFRGS.

SHIRATORI, Karen. 2022. “No olho do furacão plantation e contradomesticação”. In O antropoceno sobre modos de compor o mundo, organizado por Stelio MARRAS; Renzo TADDEI, 111-32. Belo Horizonte: Fino Traço.

STRATHERN, Marilyn. 1988. The gender of the gift: Problems with women and problems with society in Melanesia. Berkeley and Los Angeles: University of California Press.

TASTEVIN, Constant. (1922) 2008. “Os índios Mura da Região do Autaz. In: Tastevin e a Etnografia Indígena. Coletânea de traducões de textos produzidos em Tefé (AM), organizado por Priscila FAULHABER; Ruth MONSERRAT, 56-75. Rio de Janeiro: Museu do Índio.

TAYLOR, Anne-Christine. 1996. “The Soul’s Body and its states: an Amazonian Perspective on the Nature of Being Human”. The Journal of Royal Anthropological Institute, 2, no. 2: 201-2015.

TSING, Anna L.. 2019. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. Brasília: IEB Mil Folhas, Coleção Mil Saberes.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 1993. “Review: Of Mixed Blood: Kinship and History in Peruvian Amazonia”. Man 28 (I): 182-183.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. 2004. Perspectival Anthropology and the method of controlled equivocation. Tipití: Journal for the Anthropology of Lowland South America, 2(1).

Downloads

Publicado

2023-12-22

Edição

Seção

Dossiê: Alteridades Vegetais

Como Citar

Histórias emaranhadas, arquivos subterrâneos: relações multiespécies nas paisagens do baixo rio Madeira. (2023). Cadernos De Campo (São Paulo - 1991), 32(2), e215764. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v32i2pe215764

Dados de financiamento