As pessoas das fichas
o lugar da burocracia nos processos de saúde-doença
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v29i1p38-52Palavras-chave:
Dor, Pessoa, Adoecimento no Trabalho, Burocracia, EstadoResumo
Este trabalho tem por objetivo analisar as complexas relações administrativas em um Centro de Reabilitação para o Trabalho que transformam pessoas em pacientes, e a dor em casos médicos. Na raiz desse procedimento, encontra-se variados mecanismos de representação social das pessoas por meio de fichas administrativas que constroem pessoas por meio do retrato empreendido por um analista da situação de adoecimento do trabalhador. Verificou-se que o chamado nexo causal entre adoecimento e condições de trabalho realizado pelo médico do Centro está profundamente relacionado com as representações grafadas nas fichas, orientadas por noções como autonomia e independência, valores da ideologia do individualismo. Desse modo, o trabalho, o corpo e a dor retratados nas fichas respondem não apenas ao registro objetivo de situações narradas, mas, sobretudo, são informados por quadros mais amplos como formações universitárias, religiosas e visões de mundo. Ademais, percebeu-se que o diagnóstico é empreendido por diferentes agentes sociais, em diferentes escalas que, ao preencherem as fichas, vão construindo enquadramentos por meio dos quais o "o caso" clínico se faz inteligível. Em sendo assim, interessa-me aqui perseguir o processo de produção social de pacientes por meio de representações em prontuários, laudos, atestados e demais documentos.
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