O percurso de um morto: literatura e violência em Adiós Ayacucho, de Julio Ortega
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2317-9651.v1i9p344-361Palavras-chave:
narrativa peruana, guerra interna no Peru, farsa, direitos civisResumo
Surgido de uma fotografia publicada em uma revista, um corpo despedaçado adquire a sobrevida da linguagem. Trata-se de um corpo ilegível, que só na morte pode falar, com uma enunciação paródica que evade as cumplicidades da representação que marcam o discurso da guerra interna no Peru. É um fantoche que enfrenta o irrepresentável da violência, e constrói seu itinerário como um embate com os discursos do poder, que incluem a antropologia, a mídia, a política (a literatura e a crítica também ficam comprometidas na ubiquidade do discurso intelectual como forma de dominação), e promulgam o esquecimento como solução para o desenvolvimento. Nova Antígona, este cadáver reclama pelos seus membros desaparecidos: nas valas, nas memórias e no senso comum. Neste cenário, o além inverte seus ministros e regiões, e adquire um sentido civil, de invenção do presente e da comunidade.
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