A placenta clariciana: o it vivo e seu instante-já-aleluia
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2019.156151Palavras-chave:
Água viva, Lispector, Semiótica, Afetos, FiguratividadeResumo
O artigo discute a abstração linguística em Água Viva, de Clarice Lispector, à luz da semiótica de orientação francesa. Parte-se da estratégia da autora de deixar, na enunciação-enunciada, as marcas de um processo criativo que resultou em uma grade de leitura contínua, sem divisões em capítulos. Um simulacro da enunciação sendo enunciada. A autora faz isso ao escrever por esboços: criando efeitos de sentido mais abertos a interpretações, circundando-os, ao negar a cristalização compartilhada erigida pela tradição dicionarista que relega as palavras à clausura. A oposição semântica fundamental entre vida e morte deixa de existir. Ambos se fundem em um só objeto com estatuto de sujeito - que toma o ator da enunciação numa metáfora da ressignificação das palavras. A narrativa interessa-se por tudo que é, pelo ser daquilo que ela descreve como it, que não é a coisa ontológica e não pode ser nomeado. A obra é tomada, neste trabalho, como rica fonte de reflexão semiótica acerca de um projeto geral e abstrato que garante à língua possibilidades de ultrapassagem semântica de quaisquer limites, mostrando a força das construções sintagmáticas do discurso no percurso da significação no qual o afeto é subjacente, em face da categorização do lexema.
Downloads
Referências
BARROS, Manoel de. O Livro das Ignorãças. São Paulo: Record, 1997 [1993].
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria do Discurso: Fundamentos Semióticos. 2.Ed - São Paulo: Humanitas / FFLCH / USP, 2001 [1988].
BARTHES, Roland. Aula. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 1989.BEIVIDAS, Waldir. A dimensão do afeto em semiótica: entre fenomenologia e semiologia. In: MARCHEZAN, R. C.; CORTINA, A.; BAQUIÃO, R. C. (Org.). A abordagem dos afetos na semiótica. São Carlos: Pedro&João editores, 2011. p.13-33.
BERTRAND, Denis. Caminhos da Semiótica Literária. Bauru, SP: Edusc, 2003.
BERTRAND, Denis.; ESTAY STANGE, Verónica. Reflexões sobre a perspectiva gerativa em Semiótica. In: CORTINA, A.; MORENO, F. (org). Semiótica e Comunicação: estudo sobre textos sincréticos. Araraquara, SP: Cultura Acadêmica, 2014. p.13-22.
FLOCH, Jean-Marie. Alguns conceitos fundamentais em Semiótica Geral. Documentos de Estudo do Centro de Pesquisas Sociossemióticas. Tradução de Analice Dutra Pilar. Revisão: Ana Cláudia de Oliveira e Eric Landowski. São Paulo: Centro de Pesquisas Sociossemióticas, 2001.
FLOCH, Jean-Marie. Figures, Iconité et plasticité. Actes Sémiotiques: La figurati-vité II. v. VI. Paris, 1983. p. 5-7.
GREIMAS, Algirdas Julien. J. Da Imperfeição. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2017 [1987].
GREIMAS, Algirdas Julien. De la figurativité. In :Actes Sémiotiques: La figurativitéII. v. VI. Paris, 1983. p. 48-51.
GREIMAS, Algirdas Julien. Sémantique structurale. Recherche de méthode. 3e. édition. Paris: PUF, 2002 [1966].
GREIMAS, Algirdas Julien. Sobre o Sentido II: ensaios semióticos. Trad. Dilson Ferreira da Cruz. 1 ed. São Paulo: Nankin: Edusp, 2014 [1983].
GREIMAS, Algirdas Julien.; COURTÉS, Jacques. Dicionário de Semiótica. Trad. Alceu Dias Lima et alii. São Paulo: Contexto, 2008 [1979].
HÉNAULT, Anne. História Concisa da Semiótica. São Paulo: Parábola Editorial,2006 [1992].
HJELMSLEV, Louis. Prolegômenos a uma Teoria da Linguagem. Trad. J. Teixeira Coelho Netto. São Paulo: Perspectiva, 2013 [1943].
KLINTOWITZ, Jacob. Marcelo Grassmann: matéria dos sonhos -stuff of dreams. [versão em inglês Vértice Translate]. 1 ed. São Paulo: Instituto Olgas Kos de Inclusão Cultural, 2015.
LISPECTOR, Clarice. A Paixão Segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998a [1964].
LISPECTOR, Clarice. Água Viva. Rio de Janeiro: Rocco, 1998b [1973].
MENDES, Conrado Moreira. Da Linguística Estrutural à Semiótica Discursiva: um percurso teórico-epistemológico. In: Raído, v. 5, n. 9. Dourados, MS, 2011.p. 173-193. Disponível em: <http://ojs.ufgd.edu.br/index.php/Raido/article/view/975/810> Acesso em: 28 dez. 2018
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 2015 [1945]. MORAES, Letícia. Quando a Menina é de lá: fenomenologia, tensividade e semiótica em Guimarães Rosa. In: Revista Estação Literária. Volume 20, Londrina, 2018.p. 70-84. Disponível em <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/estacaoliteraria/article/view/30917/0> Acesso em: 17 out. 2018
NUNES, Benedito. Dossiê da obra. In: LISPECTOR, C. A Paixão Segundo GH. Edição crítica. Florianópolis: Editora da UFSC, 1988.
PRADO JR., Plínio W. O impronunciável: notas sobre um fracasso sublime. In: Remate de males, n 9. Campinas, 1989. Disponível em: <http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/remate/article/view/8636558/4277>. Acesso em: 12 dez. 2018.SÁ, Olga de. Clarice Lispector:a travessia do oposto. São Paulo: Annablume,1993.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. Trad. A. Chelini, J. P. Paese I. Blikstein. 27aEd. São Paulo: Cultrix, 2006.
SEUPHOR, Michel. Transfiguration du Jongleur. (1967). Disponívele m: <http://www.artnet.com/artists/michel-seuphor/transfiguration-du-jongleur-DQlZgzUqHGamIoZCgDLewA2> Acesso em: 07 mar. 2019.
TATIT, Luiz. A abordagem do texto. In: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à linguísticaI: objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2012. p. 187-209.
TATIT, Luiz. Semiótica à Luz de Guimarães Rosa. São Paulo. Ateliê Editorial, 2010.
VIEIRA, Nelson H. The stations of the body, Clarice Lispector’s abertura and renewal. In: Remate de males, n 9. Campinas, 1989. Disponível em: <http://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/remate/article/view/8636563> Acesso em: 20 fev. 2019.
ZILBERBERG, Claude. Elementos de Semiótica Tensiva. Trad. Ivã Lopes, LuizTatit e Waldir Beividas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011 [2006].
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2019 Fernando de Freitas Moreira

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Os trabalhos publicados na revista Estudos Semióticos estão disponíveis sob Licença Creative Commons CC BY-NC-SA 4.0, a qual permite compartilhamento dos conteúdos publicados, desde que difundidos sem alteração ou adaptação e sem fins comerciais.