Gesto teórico, gesto político. A semiótica diante dos Cultural Studies

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2021.188607

Palavras-chave:

Semiótica, Cultura, Cultural studies, Pós-memória dos perpetradores, Violência política

Resumo

Princípio de pertinência, eixo da imanência e distância objetivante são regras da semiótica plenamente integradas à metodologia do investigador. São regras que se apresentam como evidentes frente a objetos relativamente “neutros”, do ponto de vista ético e político. No conjunto dos fenômenos culturais que a semiótica pode considerar como corpus, entretanto, alguns desses fenômenos interpelam-nos diretamente, e de modo tão radical que nosso primeiro impulso seria produzir um discurso militante, desviando-nos (realmente nos desviando?) das possibilidades que essa disciplina nos oferece. Assassinatos em massa, crimes contra a humanidade: como podemos nos referir a tais “objetos”, axiologicamente tão marcados, sem romper com as regras de análise e, ao mesmo tempo, sem produzir um discurso árido, insensível, desumanizado? Nesses casos, até que ponto é possível recorrer ao “gesto teórico” próprio da semiótica?Os Cultural Studies têm enfrentado o problema de frente. Motivado por um “gesto político”, o investigador constrói sua legitimidade com base em sua implicação direta nas problemáticas com que trabalha. Nesse quadro, o semioticista não pode deixar de questionar as bases de seu posicionamento, perguntando-se com que ele pode colaborar, dentro dos limites de sua disciplina, respeitando (ou não) os princípios que a definem. Esse é o objetivo desta contribuição, que coteja a perspectiva semiótica e o enfoque dos Cultural Studies, retomando reflexões desenvolvidas previamente em colaboração com Raphaël Horrein. A partir dessas reflexões, proponho-me a abordar os desafios que se colocam para nossa disciplina, bem como suas possíveis contribuições frente a fenômenos culturais “extremos”, vinculados à violência política.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Verónica Estay Stange, Institut d'études politiques de Paris

Docente do Institut d'études politiques de Paris, França.

Referências

ANDERS, Günther. Nous, fils d’Eichmann: lettre ouverte à Klaus Eichmann. Paris, França: Payot et Rivages, 2003 [1964].

BAETENS, Jan. Mon Grand Tour en sémiotique. La sémiotique vue depuis les cultural studies. Signata. Annales des sémiotiques / Annals of Semiotics, 2, “La sémiotique, entre autres”, pp. 155-166, 2011. DOI : 10.4000/signata.642

BARTALINI, Carolina y ESTAY STANGE, Verónica (eds.), Escritos desobedientes. Historias de hijas, hijos y familiares de genocidas por la memoria, la verdad y la justicia. Buenos Aires, Argentina: Marea, 2018.

BEYAERT-Geslin, Anne. Sémiotique des objets. La matière du temps. Liège, Bélgica: Presses Universitaires de Liège, 2015.

CERVULLE, Maxime et QUEMENER, Nelly. Cultural Studies: Théories et méthodes. 2a ed., Paris, França: Armand Colin, 2018.

CHALARD-FILLAUDEAU, Anne. Les études culturelles. Saint-Denis, França: PUV, 2015.

COQUET, Jean-Claude. Phusis et logos. Une phénoménologie du langage. Saint-Denis, França: PUV, 2007.

DARRAS, Bernard. Études culturelles & Cultural Studies. Paris, França: L’Harmattan, 2006.

ESTAY STANGE, Verónica. La musique hors d’elle-même. Le paradigme musical et l’art contemporain. Paris, França: Classiques Garnier, 2018.

FONTANILLE, Jacques. Textes, objets, situations et formes de vie. Les niveaux de pertinence du plan de l’expression dans une sémiotique des cultures. In: J. Alonso, D. Bertrand, M. Costantini y S. Dambrine (eds.), La Transversalité du sens. Parcours sémiotiques (p. 213-240). Saint-Denis, França: PUV, 2007.

FONTANILLE, Jacques. Pratiques sémiotiques. Paris, França: PUF, 2015.

GREIMAS, Algirdas Julien. La soupe au pistou: ou la construction d’un objet de valeur. Documents de recherche (Groupe de recherches sémio-linguistiques), 5, 1979.

GREIMAS, Algirdas Julien. Entretien réalisé par Jacques Fontanille, Langue française: Sémiotique et enseignement du français, 61, 1984, p. 121-128.

GREIMAS, Algirdas Julien. De l’imperfection. Périgueux, França: Fanlac, 1987.

HALL, Stuart. Identités et cultures. Politiques des Cultural Studies. Paris, França: Éditions Amsterdam, p. 49-69, 2017 [2008].

HUSSERL, Edmund. Ideen zu Einer Reinen Phänomenologie und Phänomenologischen Philosophie. Netherlands: Martinus Nijhoff, 1976 [1913].

HUSSERL, Edmund. Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica. Trad. Márcio Suzuki. Aparecida/SP: Ideias e Letras, 2006 [1913].

RADSTONE, Susannah. Memory studies: For and against. Memory Studies, 1(1), pp. 31-39, 2008. DOI: 10.1177/1750698007083886

Downloads

Publicado

2021-08-13

Como Citar

Estay Stange, V. (2021). Gesto teórico, gesto político. A semiótica diante dos Cultural Studies . Estudos Semióticos, 17(2), 184-202. https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2021.188607

Edição

Seção

Cultura, engajamento e política