Rebobinando a fita: arqueologia do videotape nas aldeias

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2525-3123.gis.2022.181961

Palavras-chave:

Filmes indígenas, Vídeo nas Aldeias, Andrea Tonacci, Documentário, Mídia Indígena

Resumo

O artigo retoma algumas das experiências, movimentos e processos de aprendizagem e produção com o videotape junto a comunidades indígenas no Brasil, quando o equipamento de gravação em fita magnética começava a se popularizar com os formatos portáteis. O cineasta Andrea Tonacci se inquieta com as possibilidades do registro e reprodução simultâneas do videotape como parte da figuração da comunidade, como olhar processual, reflexivo. As camcorders dos Kayapó registraram discursos, viagens, eventos e rituais comunitários, antes mesmo das primeiras experiências do Vídeo nas Aldeias (VNA). O filme A festa da moça (1987), de Vincent Carelli, opera uma alteração naquilo que era imaginado como “olhar do outro” por Tonacci – e por muitas das produções do Vídeo Popular –, pois nos devolve um olhar deslocado, que presencia a retomada dos corpos dos jovens em comunidade, enfeitados e marcados como os antepassados, ao mesmo tempo que nos posiciona como espectadores não indígenas.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Bernard Belisário, Universidade Federal do Sul da Bahia

    BERNARD BELISÁRIO é Doutor e Mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Cursou graduação em Rádio/TV e em Jornalismo, também na UFMG. É Professor do Magistério Superior na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), onde (vice) lidera o grupo de pesquisa Poéticas Ameríndias (CFAC/IHAC-SC). Integra o Conselho Gestor da Agência de Iniciativas Cidadãs (AIC/MG) e o corpo de pesquisadores da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine/SP). Coopera com os Laboratórios de História Indígena da Universidad Nacional Autónoma de México (Unam). E-mail: bernard@ufsb.edu.br

Referências

Alvarenga, Clarisse. 2020. Cinema e arquivo na América Indígena: Andrea Tonacci, encontros e reencontros. Revista C-Legenda, 1 (38-39): 15-27.

Alvarenga, Clarisse. 2017. Da cena do contato ao inacabamento da história: Os últimos isolados (1967-1999), Corumbiara (1986-2009) e Os Arara (1980-). Salvador: Edufba.

Alvarenga, Clarisse. 2010. Refazendo os caminhos do audiovisual comunitário contemporâneo. In Audiovisual comunitário e educação: histórias, processos e produtos, org. Juliana Leonel e Ricardo Fabrino. Belo Horizonte: Autêntica: 87-105.

Bermúdez Rothe, Beatriz (org.). 1995. Pueblos Indígenas de América Latina y el Caribe: catálogo de cine y video. Caracas: Biblioteca Nacional.

Brasil, André. 2016. Ver por meio do invisível: o cinema como tradução xamânica. Novos Estudos – Cebrap, 35 (3): 125-146. https://doi.org/10.25091/S0101-3300201600030007

Brasil, André. 2013a. Formas do antecampo: performatividade no documentário brasileiro contemporâneo. Famecos – mídia, cultura e tecnologia, 20 (3): 578-602. https://doi.org/10.15448/1980-3729.2013.3.14512

Brasil, André. 2013b. Mise-en-abyme da cultura: a exposição do “antecampo” em Pi’õnhitsi e Mokoi Tekoá Petei Jeguatá. Significação, 40 (40): 245-267. https://doi.org/10.11606/issn.2316-7114.sig.2013.71683

Brazil, Daniel. 1992. Vídeo: uso e função. In Vídeo Popular (ABVP): 6-7.

Caixeta de Queiroz, Ruben. 2009. Entrevista com Vincent Carelli. In Forumdoc.bh.2009: catálogo: 149-160.

Carelli, Vincent. 2004. Moi, un Indien. In Um olhar indígena: catálogo da mostra Vídeo nas Aldeias: 21-32.

Carelli, Vincent. 1987. Vídeo e reafirmação étnica. Caderno de Textos – Antropologia Visual: 42-45.

Carvalho, Ana. 2010. Por um cinema compartilhado: entrevista com Vincent Carelli. In Audiovisual comunitário e educação: histórias, processos e produtos, orgs. Juliana Leonel e Ricardo Fabrino. Belo Horizonte: Autêntica: 361-378.

Coffaci de Lima, Edilene; Maria Inês Smiljanic; Ricardo Cid Fernandes. 2008. Uma antropologia engajada: entrevista com Terence Turner. Revista Campos, 9 (2): 139-157. http://dx.doi.org/10.5380/cam.v9i2.15868

Córdova, Amalia. 2015 [2011]. Estéticas enraizadas: aproximações ao vídeo indígena na América Latina. In Olhar – um ato de resistência: catálogo da mostra: 147-178.

Córdova, Amalia e Gabriela Zamorano. 2004. Mapeando Medios en México: Video Indígena y Comunitario en México. In Native Networks/Redes Indígenas, Smithsonian National Museum of the American Indian.

Feitosa [Frota], Mônica. The Other’s Visions: From the Ivory Tower to the Barricade. Visual Anthropology Review, 7 (2): 48-49, 1991.

Flaherty, Robert. 2011 [1922]. Como filmei Nanook do Norte. In Forumdoc.bh.2011: catálogo: 329-339.

França, Luciana. 2003. Conversas em torno de Conversas no Maranhão: etnografia de um filme documentário. Monografia de graduação em Ciências Sociais. Belo Horizonte: Fafich/UFMG.

Frota, Mônica. 2000. Taking Aim e a Aldeia Global: a apropriação cultural e política da tecnologia de vídeo pelos índios Kayapós. Revista Sinopse, 5: 91-92.

Ginsburg, Faye. 2016. Indigenous media from U-Matic to Youtube: media sovereignty in the digital age. Sociologia & Antropologia, 6 (3): 581-599. https://doi.org/10.1590/2238-38752016V632

Ginsburg, Faye. 1994. Embedded aesthetics: creating a discursive space for indigenous media. Cultural Anthropology, 9 (3): 365-382.

Ginsburg, Faye. 1991. Indigenous Media: Faustian Contract or Global Village? Cultural Anthropology, 6 (1): 92-1121.

Gonçalves, Cláudia Pereira. 2012. Divino Tserewahú, Vídeo nas Aldeias et alii: uma etnografia de encontros intersocietários. Tese de doutorado em Antropologia Social. Florianópolis: PPGAS/UFSC, 2012.

Guimarães, César. 2012. Atração e espera: notas sobre os fragmentos não montados de Os Arara. Devires – Cinema e Humanidades, 9 (2): p. 50-69.

Kandt, Oliver Martínez. 2019. Una mirada a los archivos de video comunitario en Oaxaca. In Desistfil. https://desistfilm.com/una-mirada-a-los-archivos-de-video-comunitario-en-oaxaca/

Leandro, Anita; Amaranta Cesar; André Brasil; Cláudia Mesquita. 2017. Nomear o genocídio: uma conversa sobre Martírio, com Vincent Carelli. Revista Eco Pós, 20 (2): 232-257. https://doi.org/10.29146/eco-pos.v20i2.12504

Magallanes-Blanco, Claudia. 2008. The Use of Video for Political Consciousness-Raising in Mexico: An Analysis of Independent Videos About the Zapatistas. Lewiston, Queenston, Lampeter: Edwin Mellen Press.

Marin, Nadja e Paula Morgado. 2016. Filmes indígenas no Brasil: trajetória, narrativas e vicissitudes. In A experiência da imagem na etnografia, org. Andréa Barbosa et al. São Paulo: Terceiro Nome.

Minter, Sarah. 2008. A vuelo de pájaro, el video en México: sus inicios y su contexto. In Video en Latinoamérica: una historia crítica, org. Laura Baigorri. Madrid: Brumaria: 159-168.

Rios, Luiz Henrique; Pereira, Renato Rodrigues; Frota, Mônica. 1987. Mekáron Opoijoie. Caderno de Textos – Antropologia Visual: 81-82.

Rouch, Jean. 1979. La Caméra et les hommes. In Pour une Anthropologie visuelle, org. Claudine de France. Paris: EHESS: 53-71.

Santoro, Luiz Fernando. 1989. A imagem nas mãos: o vídeo popular no Brasil. São Paulo: Sumus.

Tacca, Fernando de. 2002. Rituaes e festas Bororo: a construção da imagem do índio como ‘selvagem’ na Comissão Rondon. Revista de Antropologia, 45 (1): 187-219. https://doi.org/10.1590/S0034-77012002000100006

Tonacci, Andrea et al. 1980. Pra começo de conversa. Filme Cultura, 34: 4-11.

Trevisan, João Silvério. 1983. Andrea Tonacci. Filme Cultura, 41/42: 6-10.

Turner, Terence. 1993. Imagens desafiantes: a apropriação Kaiapó do vídeo. Revista de Antropologia (USP), 36: 81-121. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1993.111390

Turner, Terence. 1991. Representing, rethinking, resisting: historical transformations of Kayapo culture and anthropological consciousness. In Colonial Situations: essays on the contextualization of ethnographic knowledge, org. George Stocking. Madison: University of Wisconsin Press: 285-313.

Turner, Terence. 1990. The Kayapo Video Project: A Progress Report. Commission on Visual Anthropology Review (Fall): 7-10.

Worth, Sol e John Adair. 1997 [1972]. Through Navajo eyes: an exploration in film communication and anthropology. Albuquerque: University of New Mexico Press.

Wortham, Erica Cusi. 2004. Between the State and Indigenous Autonomy: Unpacking Video Indígena in Mexico. American Anthropologist, 106 (2): 363-368.

Xavier, Ismail. 2008. As artimanhas do fogo, para além do encanto e do mistério. In Serras da Desordem, org. Daniel Caetano. Rio de Janeiro: Azougue: 11-24.

Xavier, Ismail. 1993. Alegorias do subdesenvolvimento. São Paulo: Brasiliense.

Zea, Evelyn Schuler; Renato Sztutman; Rose Satiko G. Hikiji. 2007. Conversas na desordem: Entrevista com Andrea Tonacci. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, 45, 239-260. https://doi.org/10.11606/issn.2316-901X.v0i45p239-260

Nanook: o esquimó [Nanook of the North]. 1922. Robert Flaherty. Documentário 35mm. 79 min.

Eu, um negro [Moi un noir]. 1958. Jean Rouch. Documentário 16mm. 70 min.

A caça ao leão com arco [La chasse au lion à l’arc]. 1965. Jean Rouch. Documentário 16mm. 77 min.

Jaguar. 1967. Jean Rouch. Documentário 35mm. 88 min.

Bang Bang. 1970. Andrea Tonacci. Ficção 35mm. 84 min. São Paulo: Cinemateca Nacional / SPCine Play. https://www.looke.com.br/filmes/bang-bang

Jouez Encore, Payez Encore [Interprete mais, pague mais]. 1975. Andrea Tonacci. Documentário 16mm. 120 min. São Paulo: Interpovos.

Os arara/1. 1980. Andrea Tonacci. Documentário HSVT. 60 min. São Paulo: Interpovos / TV Bandeirantes.

Os arara/2. 1981. Andrea Tonacci. Documentário U-Matic. 60 min. São Paulo: Interpovos / TV Bandeirantes.

Os arara/3. 1981-. Andrea Tonacci. Filmagem em vídeo não editada. 238 min. Acervo de Cristina Amaral. São Paulo: Interpovos.

Conversas no Maranhão. 1983. Andrea Tonacci. Documentário 16mm. 116 min. São Paulo: SPCine Play. https://www.looke.com.br/filmes/conversas-no-maranhao

Danza Azteca. 1987. Martha Colmenares e Álvaro Vázquez. Assembleia de Autoridades Zapotecas e Chinotecas da Serra. Documentário Betamax. 90 min. Oaxaca: K-Xhon Video Cine.

A festa da moça. 1987. Vincent Carelli. Documentário VHS. 18 min. Vídeo nas Aldeias. https://vimeo.com/ondemand/afestadamoca

The Kayapo. 1987. Michael Beckham. Documentário 16mm. 52 min. Londres: Royal Anthropological Institute. https://raifilm.org.uk/films/the-kayapo/

The Kayapo: out of the forest. 1989. Documentário 16mm. 52 min. Michael Beckham. Londres: Royal Anthropological Institute. https://raifilm.org.uk/films/the-kayapo-out-of-the-forest/

Serras da desordem. 2005. Andrea Tonacci. Documentário 16mm. 136 min. São Paulo: Extremart / SPCine Play. https://www.looke.com.br/filmes/serras-da-desordem

Publicado

2022-08-30

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

“Rebobinando a Fita: Arqueologia Do Videotape Nas Aldeias”. 2022. GIS - Gesto, Imagem E Som - Revista De Antropologia 7 (1): e181961. https://doi.org/10.11606/issn.2525-3123.gis.2022.181961.