“Doutor, volta e pesquise melhor, falou besteira”: autoridade e argumentação em comentários no YouTube

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2236-4242.v37i1p170-196

Palavras-chave:

Autoridade, Argumentação, Comentários, YouTube

Resumo

Movimentos como os de terraplanistas, agentes antivacinas e céticos das mudanças climáticas têm impulsionado a discussão sobre a legitimidade dos conhecimentos construídos na esfera científica. Allchin (2022) entende que esses movimentos constituem o que denomina como Crise da Desinformação Científica, que influenciaria, dentre outras práticas, a forma como a comunicação científica, e sobretudo o debate que ela promove no meio digital, se desenvolve. Neste artigo, temos como objetivo investigar a tensão no reconhecimento de comunicadores científicos como autoridades em relação aos temas que discutem em vídeos de divulgação científica no YouTube. Para tanto, partimos dos estudos argumentativos (Gonçalves-Segundo, 2020; 2023a; Grácio, 2010; Plantin, 2008), em especial, das categorias de esquemas argumentativos e de perguntas críticas (Walton; Reed; Macagno, 2008; Lewiński, 2022; Gonçalves-Segundo, 2023a), e dos estudos sobre autoridade (Allchin, 2022; Lewiński, 2022), e nos debruçamos sobre um corpus de comentários do YouTube acerca de um vídeo sobre a segurança das vacinas contra a Covid-19. Identificamos distintos modos de questionamento sobre a autoridade do comunicador científico enquanto um porta-voz da ciência, especialmente no que diz respeito às dimensões da credibilidade, da confiabilidade e da consistência.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Gabriel Isola-Lanzoni, Universidade de São Paulo

    Doutorando em Letras pela Universidade de São Paulo (Brasil).

  • Lucas Pereira da Silva, Universidade de São Paulo

    Doutorando em Letras pela Universidade de São Paulo (Brasil).

Referências

ALLCHIN, D. Who Speaks for Science? Science & Education, v. 31, n. 6, p. 1475-1492, 2022. DOI: http://doi.org/10.1007/s11191-021-00257-4.

AMOSSY, R. A argumentação no discurso. Tradução Eduardo Lopes Piris; Moisés Olímpio-Ferreira. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2018.

AMOSSY, R.; PIERROT, A. H. Estereótipos e clichês. Trad. Mônica Magalhães Cavalcante (coord.). São Paulo: Contexto, 2022.

ARASZKIEWICZ, M.; KOSZOWY, M. The Structure of Arguments from Deontic Authority and How to Successfully Attack Them. Argumentation, v. 38, n. 1, p. 1–28, 2024. DOI: https://doi.org/10.1007/s10503-023-09623-8.

BLANCKE, S.; BOUDRY, M. “Trust Me, I’m a Scientist”: How Philosophy of Science Can Help Explain Why Science Deserves Primacy in Dealing with Societal Problems. Science & Education, v. 31, n. 5, p. 1141-1154, 2022. DOI: http://doi.org/10.1007/s11191-022-00373-9.

FARHAT, T. C.; GONÇALVES-SEGUNDO, P. R. A semântica das perguntas em português brasileiro: Uma proposta sistêmico-funcional. Revista do GEL, v. 18, n. 2, p. 35–65. 2021. DOI: https://doi.org/10.21165/gel.v18i2.3117.

DA SILVA, L. P. Explorando o argumentário: uma análise lógico-discursiva do debate público sobre o Escola Sem Partido. 2022. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022. DOI: http://doi.org/10.11606/D.8.2022.tde-02012023-123156.

DA SILVA, L. P.; ISOLA-LANZONI, G.; GONÇALVES SEGUNDO, P. R. A pandemia no discurso da ecologia midiática conservadora brasileira: uma análise argumentativa. In: MASSMANN, D.; PIRIS, E. L. (Eds.). A argumentação nos discursos sobre a pandemia da covid-19. Maceió: EDUFAL, 2021, p. 82–94. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/354640143_A_pandemia_no_discurso_da_ecologia_midiatica_conservadora_brasileira_uma_analise_argumentativa. Acesso em: 18 dez. 2021.

GIL, D. et al. Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação (Bauru), v. 7, n. 2, p. 125-153, 2001. DOI: http://doi.org/10.1590/S1516-73132001000200001.

GONÇALVES-SEGUNDO, P. R. A configuração funcional da argumentação epistêmica: uma releitura do layout de Toulmin em perspectiva multidisciplinar. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v. 15, n. 3, p. 236-266, 2020. DOI: http://doi.org/10.1590/2176-457347130.

GONÇALVES-SEGUNDO, P. R. Argumentação prática: teoria, método e análise. 395f. Tese (Livre-Docência) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. São Paulo. 2023a.

GONÇALVES-SEGUNDO, P. R. O raciocínio argumentativo entre o lógico e o dialético; o modelo de Stephen Toulmin. In: PIRIS, E. L.; GRÁCIO, R. A. (org.). Introdução às teorias da argumentação. Campinas: Pontes, 2023b. p. 51-87.

GONÇALVES-SEGUNDO, P. R.; ISOLA-LANZONI, G. A Terra é plana?: uma análise da articulação entre argumentação epistêmica, multimodalidade e popularização científica no YouTube. Redis: Revista de Estudos do Discurso, n. 8, p. 84–121, 2019. DOI: http://doi.org/10.21747/21833958/red8a4.

GOODWIN, J. Should Climate Scientists Fly? Informal Logic, v. 40, n. 2, p. 157–203, 2020. DOI: http://doi.org/10.22329/il.v40i2.6327.

GRÁCIO, R. A. Para uma teoria geral da argumentação: questões teóricas e aplicações didácticas. 2010. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Universidade do Minho, Braga, 2010. Disponível em: https://hdl.handle.net/1822/12486. Acesso em: 10 jan. 2020.

HARDWIG, J. Epistemic Dependence. The Journal of Philosophy, v. 82, n. 7, p. 335, 1985. DOI: http://doi.org/10.2307/2026523.

HOOFNAGLE, M.; HOOFNAGLE, C. J. What is Denialism? SSRN Electronic Journal, 2007. DOI: http://doi.org/10.2139/ssrn.4002823.

KHOSRAVINIK, M.; UNGER, J. W. Critical discourse studies and social media: power, resistance and critique in changing media ecologies. In: WODAK, R.; MEYER, M. (org.). Methods of Critical Discourse Studies. Introducing Qualitative Methods series. 3. ed. Los Angeles, Londres, Nova Deli, Singapura e Washington: SAGE, 2016. p. 205-233. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/284725923_Methods_of_Critical_Discourse_Studies_3rd_edition. Acesso em 20 set. 2022.

INSTITUTO NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM COMUNICAÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA (INCT-CPCT). Confiança na ciência no Brasil em tempos de pandemia. Rio de Janeiro: INCT-CPCT, 2022. Disponível em: https://www.inct-cpct.ufpa.br/2022/12/15/disponivel-o-resumo-executivo-da-survey-confianca-na-ciencia-no-brasil-em-tempos-de-pandemia-realizada-pelo-inct-cpct-2/. Acesso em: 12 mai. 2023.

ISOLA-LANZONI, G. Argumentação e explicação na constituição da Divulgação Científica Politizada (DCP): investigando o dissenso em torno da segurança das vacinas. Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentação. no prelo.

LEWANDOWSKY, S. et al. Debunking Handbook 2020. Databrary, 2020. DOI: http://doi.org/10.17910/b7.1182.

LEWIŃSKI, M. Challenging Authority with Argumentation: The Pragmatics of Arguments from and to Authority. Languages, v. 7, n. 3, p. 1-18, 2022. DOI: http://doi.org/10.3390/languages7030207.

LIMA, H. Discursos negacionistas disseminados em rede. Revista da ABRALIN, v. 19, n. 3, p. 389-408, 2020. DOI: http://doi.org/10.25189/rabralin.v19i3.1758.

OLIVEIRA, D. L.; GOLZIO, D. G.; DE SOUZA, J. P. I. Fake News y pseudociencia: la politización de los discursos sobre Covid-19 en Twitter de Brasil. Chasqui. Revista Latinoamericana de Comunicación, v. 1, n. 153, p. 271–290, 2023. DOI: http://doi.org/10.16921/chasqui.v1i153.4678.

PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação: A nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2006[1958].

PLANTIN, C. A argumentação: História, teorias, perspectivas. São Paulo: Parábola, 2008.

ROSENAU, J. Science denial: a guide for scientists. Trends in Microbiology, v. 20, n. 12, p. 567-569, 2012. DOI: http://doi.org/10.1016/j.tim.2012.10.002.

SLOB, W. H. The Voice of the Other: A Dialogic-Rhetorical Understanding of Opponent and of Toulmin’s Rebuttal. In: HITCHCOCK, D.; VERHEIJ, B. (org.). Arguing on the Toulmin Model: New Essays in Argument Analysis and Evaluation. Argumentation Library. Dordrecht: Springer Netherlands, 2006. p. 165-180. DOI: https://doi.org/10.1007/978-1-4020-4938-5_11.

TOULMIN, S. Os usos do argumento. São Paulo: Martins Fontes, 2006[1958].

VAN EEMEREN, F. H.; GARSSEN, B. J. (Ed.). Reflections on Theoretical Issues in Argumentation Theory. New York/Dordrecht: Springer, 2015.

VERHEIJ, B. Evaluating Arguments Based on Toulmin’s Scheme. In: HITCHCOCK, D.; VERHEIJ, B. (Eds.). Arguing on the Toulmin Model: New Essays in Argument Analysis and Evaluation. Argumentation Library. Dordrecht: Springer Netherlands, 2006. p. 181-202. DOI: https://doi.org/10.1007/978-1-4020-4938-5_12.

WODAK, R.; MEYER, M. (org.). Methods of Critical Discourse Studies. 3. ed. Los Angeles, Londres, Nova Deli, Singapura e Washington: SAGE, 2016. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/284725923_Methods_of_Critical_Discourse_Studies_3rd_edition. Acesso em 20 set. 2022.

Downloads

Publicado

2024-03-14

Como Citar

ISOLA-LANZONI, Gabriel; DA SILVA, Lucas Pereira. “Doutor, volta e pesquise melhor, falou besteira”: autoridade e argumentação em comentários no YouTube. Linha D’Água, São Paulo, v. 37, n. 1, p. 170–196, 2024. DOI: 10.11606/issn.2236-4242.v37i1p170-196. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/222110.. Acesso em: 27 abr. 2024.

Dados de financiamento