Presença estatal no mercado de crédito: bancos públicos e crédito direcionado na crise de 2008

Autores

DOI:

https://doi.org/10.1590/1808-057x202108930

Palavras-chave:

crédito direcionado, crédito bancário, bancos públicos, crise financeira

Resumo

O objetivo deste trabalho foi documentar a relação entre os dois mecanismos de atuação estatal (direcionamento do crédito e controle societário de bancos) e a concessão de crédito bancário no Brasil durante a crise financeira global de 2008. Há intenso debate na literatura sobre a efetividade da atuação do Estado no sistema financeiro e seus efeitos sobre a economia. Um dos aspectos dessa questão é identificar se a presença estatal contribui para estabilizar a concessão de crédito e suavizar o impacto econômico das crises financeiras. Os estudos realizados até o momento não consideraram as diferenças entre os créditos livres e direcionados no nível dos bancos, nem sua eventual interação com o tipo de propriedade do banco. O tema do estudo é relevante pois pode ajudar a guiar políticas públicas anticíclicas para o enfrentamento de crises, incluindo a utilização de alterações no direcionamento do crédito ou a atuação dos bancos públicos. As análises realizadas podem contribuir para informar o debate sobre os prós e contras da presença estatal no mercado de crédito. O estudo analisa dados do período de 2005 a 2012 de instituições financeiras que captam depósitos do público. As inferências são baseadas em modelos de regressão linear incluindo ampla gama de variáveis de controle. Este estudo documenta redução significativa da concessão de crédito por bancos privados no Brasil e expansão por bancos públicos durante a crise de 2008. Esta evidência não se deve apenas a diferenças na taxa de captação de recursos durante o período ou a fundamentos econômicos, sugerindo que o efeito do controle societário relaciona-se possivelmente a uma atuação anticíclica dos bancos públicos. Os resultados apontam que os mecanismos de direcionamento de crédito foram pouco relevantes na suavização da contração decorrente da crise financeira.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Allen, F., Jackowicz, K., Kowalewski, O., & Kozłowski, Ł. (2017). Bank lending, crises, and changing ownership structure in Central and Eastern European countries. Journal of Corporate

Finance, 42, 494-515.

Annibal, C., Lundberg, E., & Koyama, S. M. (2009). Crise de 2008 e as mudanças no mercado de crédito. Relatório de Economia Bancária e Crédito, 37-52. Banco Central do Brasil (BCB) (2014).

Recolhimentos compulsórios, encaixe e direcionamentos obrigatórios. Recuperado de

http://www.bcb.gov.br/?COMPULSORIOS Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) (2014).

Instituições Financeiras Credenciadas. Recuperado de https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/instituicoes-financeiras-credenciadas/

Behr, P., Foos, D., & Norden, L. (2017). Cyclicality of SME lending and government involvement in banks. Journal of Banking & Finance, 77, 64-77.

Blundell, R., & Bond, S. (1998). Initial conditions and moment restrictions in dynamic panel data models. Journal of Econometrics, 87(1), 115-143.

Bonomo, M., Brito, R., & Martins, B. (2014). Macroeconomic and financial consequences of the after crisis government-driven credit expansion in Brazil. Banco Central do Brasil Working

Paper Series, (378).

Brei, M., & Schclarek, A. (2015). A theoretical model of bank lending: Does ownership matter in times of crisis? Journal of Banking & Finance, 50, 298-307.

Brei, M., & Schclarek, A. (2013). Public bank lending in times of crisis. Journal of Financial Stability, 9(4), 820-830.

Carvalho, D. (2014). The real effects of government‐owned banks: Evidence from an emerging market. Journal of Finance, 69(2), 577-609.

Chen, Y. S., Chen, Y., Lin, C. Y., & Sharma, Z. (2016). Is there a bright side to government banks? Evidence from the global financial crisis. Journal of Financial Stability, 26, 128-143.

Coleman, N., & Feler, L. (2015). Bank ownership, lending, and local economic performance during the 2008-2009 financial crisis. Journal of Monetary Economics, 71, 50-66.

Cull, R., & Martinez Pería, M. S. (2013). Bank ownership and lending patterns during the 2008-2009 financial crisis: evidence from Latin America and Eastern Europe. Journal of

Banking & Finance, 37(12), 4861-4878.

De Paula, L. F., & Lima, G. T. (1999). Teoria da firma bancária. In G. T. Lima et al. Macroeconomia moderna: Keynes e a economia contemporânea. Rio de Janeiro: Campus.

Dinç, I. S. (2005). Politicians and banks: Political influences on government-owned banks in emerging markets. Journal of Financial Economics, 77(2), 453-479.

Fucidji, J. R., & Prince, D. D. (2009). Determinantes do crédito bancário: uma análise com dados em painel para as maiores instituições. Análise Econômica, 27(52), 233-251.

Fungáčová, Z., Herrala, R., & Weill, L. (2013). The influence of bank ownership on credit supply: evidence from the recent financial crisis. Emerging Markets Review, 15, 136-147.

Gatev, E., & Strahan, P. E. (2006). Banks’ advantage in hedging liquidity risk: Theory and evidence from the commercial paper market. Journal of Finance, 61(2), 867-892.

Kashyap, A. K., Rajan, R., & Stein, J. C. (2002). Banks as liquidity providers: An explanation for the coexistence of lending and deposit‐taking. Journal of Finance, 57(1), 33-73.

Kishan, R. P., & Opiela, T. P. (2000). Bank size, bank capital, and the bank lending channel.

Journal of Money, Credit and Banking, 32(1), 121-141.

La Porta, R., Lopez‐de‐Silanes, F., & Shleifer, A. (2002). Government ownership of banks.

The Journal of Finance, 57(1), 265-301.

Llanto, G. M., Geron, P., & Tang, C. (1999). Directed credit programs: issues and framework for reform. Manila: Credit Policy Improvement Program.

Lundberg, E. L. (2011). Bancos oficiais e crédito direcionado – o que diferencia o mercado de crédito brasileiro? Banco Central do Brasil Working Paper Series, (258).

Megginson, W. L. (2005). The economics of bank privatization. Journal of Banking & Finance,

(8-9), 1931-1980.

Micco, A., & Panizza, U. (2006). Bank ownership and lending behavior. Economics Letters,

(2), 248-254.

Oliveira, R. F., Schiozer, R., & Barros, L. A. B. C. (2015). Depositors’ perception of “too-big-to-fail”. Review of Finance, 19(1), 191-227.

Pissetti, J. A. W. (2012). The 2008 financial crisis and its effects on credit supply in the Brazilian banking system: The stabilizing role of public banks. Competence Centre on Money, Trade,

Finance and Development Working Papers, (1209).

Sapienza, P. (2004). The effects of government ownership on bank lending. Journal of Financial Economics, 72(2), 357-384.

Schiozer, R., & Oliveira, R. F. (2016). Asymmetric transmission of a bank liquidity shock.

Journal of Financial Stability, 25, 234-246.

Stiglitz, J. E. (1993). The role of the state in financial markets. The World Bank Economic Review,

(1), 19-52.

Torres Filho, E. T. (2009). Mecanismos de direcionamento do crédito, bancos de desenvolvimento e a experiência recente do BNDES. In F. M. R. Ferreira e B. B. Meirelles (Orgs.), Ensaios sobre economia financeira (pp. 11-56). Rio de Janeiro, RJ: BNDES.

Publicado

2021-12-01

Edição

Seção

Artigos Originais

Como Citar

Barros, L. A. B. de C., Silva, C. K. dos S., & Oliveira, R. de F. (2021). Presença estatal no mercado de crédito: bancos públicos e crédito direcionado na crise de 2008. Revista Contabilidade & Finanças, 32(87), 461-475. https://doi.org/10.1590/1808-057x202108930