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O que é um bom programa de televisão?

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP, São Paulo, Brasil

Ninguém nega o poder de comunicação da televisão, mas e a questão da qualidade?

Muitos consideram ruim a qualidade da televisão de hoje, e as críticas a esta são constantes, principalmente em relação ao conteúdo. Mas o que é televisão de qualidade? A proposta de Felipe de Castro Muanis, em seu artigo recém-publicado na revista Matrizes é apresentar a possibilidade de discutir-se a qualidade na televisão como um conceito amplo que pode ser debatido e aplicado de acordo com os diversos tipos de televisão, levando em conta o contexto dos programas veiculados. Como aplicá-lo em várias regiões ou outras culturas, com perspectivas diferentes e mais complexas de análise? O que seria essa qualidade? E por que precisamos de uma televisão de qualidade?

Para entender essas questões, Muanis explica que, para se falar em qualidade na televisão, é preciso que se analise sua forma e seu conteúdo, com foco nos programas e nos tipos de textos televisivos: os escritos pelos autores, roteiristas; os textos do material de divulgação; e os textos “que seriam os que são produzidos pelo público, no espaço do boca a boca, dos comentários e das cartas para a emissora“, pois são prova dos aspectos positivos da TV, do poder de comunicação e da capacidade de promover debates importantes entre os espectadores e a sociedade, capazes de interferir no andamento e na continuação ou não de um programa e mesmo na opinião pública.

A amplitude, a popularidade e a grade televisiva permitem que e o espectador de diferentes níveis sociais ou culturais assistam ao mesmo programa: seja a um filme, a uma partida de futebol, a uma telenovela ou a um reality show. No dia seguinte, essas e outras pessoas conversam e discutem sobre o que foi exibido, comunicam-se e trocam ideias e experiências“, argumenta Muanis. O autor lembra que a característica mais determinante da televisão está no processo comunicativo que ela conduz, e os programas de televisão precisam ser vistos como troca de experiências, vivências e visão de mundo.

Um programa considerado ruim pode ser um programa de qualidade? Muanis responde que sim, se considerarmos o poder da influência dos espectadores nos textos dos programas como o mais importante fator no processo comunicativo da televisão, pois promove participação social e mudanças saudáveis de comportamento. E completa: “[…] mas este é o poder não apenas da televisão, mas de seu público: o de transformar e devolver para o programa o que ele tem de melhor e pior, dando a chance de ele melhorar, mas, especialmente, gerando um canal mais amplo de comunicação e debate sobre a emissão“.

O autor toma como exemplos o programa Big Brother Brasil e a telenovela brasileira. Ainda que mal vista, criticada por mostrar um Brasil quase irreal, “a telenovela encontra um público amplo em todas as classes sociais, que se unem nas discussões sobre os acontecimentos do capítulo do dia anterior“, pois é fonte de informação, propondo discussões como o tratamento do câncer, a barriga de aluguel e a violência contra a mulher. No Big Brother Brasil 2012, um suposto acontecimento entre os participantes do programa acabou gerando um debate esclarecedor, alertando os espectadores sobre um delito grave e uma violência, no caso contra uma mulher. Desse modo, mesmo os programas considerados de baixa qualidade, muitas vezes, são responsáveis por contribuições positivas.

E no Brasil, é possível determinar o que é televisão de qualidade? O autor declara que, como brasileiro, acredita que ela deveria ser pública, “abrindo espaço para produtoras independentes e para uma maior regionalização da produção, desconcentrando esta das grandes emissoras. Tais possibilidades certamente levariam a uma integração maior do país por meio desse meio de comunicação, do conhecimento de uma produção plural e diversificada“.

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Artigo

MUANIS, Felipe de Castro. A pior televisão é melhor que nenhuma televisão. Matrizes, São Paulo, v. 9, n. 1, 87-101, jan./jun. 2015. ISSN: 1982-8160. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v9i1p87-101. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/matrizes/article/view/100675>. Acesso em: 25 jul. 2015.

 Contato

Felipe de Castro Muanis – Doutor em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, com passagem pela Bauhaus Universität Weimar, atualmente é professor visitante no Institut füt Medienwissenschaft da Ruhr-Universität Bochum, na Alemanha; coordenador do Grupo de Pesquisa Entelas; jornalista, diretor de arte e ilustrador filiado à Sociedade dos Ilustradores do Brasil – SIB. Uma versão reduzida deste trabalho foi apresentada no “Colóquio Quest-ce q’une Télèvision de Qualité”, organizado pelo Centre d’Etude sur les Images et les Sons médiatiques – Ceisme, na Sorbonne, Paris, em 3 de  setembro de 2012.
E-mail: felipe.muanis@rub.de.

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