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A cidade como espaço de batalha: de Gaza ao Rio de Janeiro

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP

Márcio José Mendonça, em artigo publicado na revista GEOUSP: Espaço e Tempo, traz uma visão da cidade “não apenas como o lugar primordial de realização do capitalismo, mas também como palco das futuras guerras“, já que a cidade, hoje, remete-nos a um espaço de batalha nas guerras contemporâneas. O autor mostra que a cidade vem sendo utilizada como palco de confronto entre aqueles considerados como terroristas, rebeldes e traficantes de drogas e exércitos regulares como uma forma de diminuir sua inferioridade em relação ao poderio militar. Desse modo, os conflitos urbanos que acabam por destruir o espaço urbano “como parte de uma estratégia de guerra” é questão que aqui se analisa, tendo como cenário a Faixa de Gaza e o Rio de Janeiro, pautando as correlações entre as duas cidades quando o assunto é a guerra urbana.

No Rio, como em Gaza, vivenciamos a militarização e a precarização da condição urbana dentro de um cenário de marginalização tanto do favelado quanto do palestino, tratados, muitas vezes, inclusive pela mídia, como sinônimos de traficantes ou terroristas. Essas pessoas, seja em Gaza ou no Rio de Janeiro, vivem sob tensão, medo, em clima de guerra, percebendo que “a socialização no espaço público reduzidas ao mínimo“, como se constata, segundo o autor, “nas favelas cariocas e nas políticas de cerco de Israel em Gaza“. Está-se falando sobre uma política de segurança que expulsa pessoas para áreas de periferia, tal aconteceu na Copa do Mundo de Futebol, da Federação Internacional de Futebol Associação (Fifa), ou na colonização dos territórios palestinos por Israel.

O estudo focalizará conflitos urbanos na Palestina e no Rio de Janeiro, fora do mundo desenvolvido, mas densamente urbanizados, apesar de suas diferenças. O Rio de Janeiro apresenta níveis de urbanização plena e moderna, em áreas nobres da cidade, comparável às de metrópoles de países desenvolvidos, enquanto sua precariedade urbana se distribui de forma muito mais desigual, por sinal, marcadamente distinta a de Gaza.

No Rio de Janeiro, observa-se a urbanização precária que resulta  na desigualdade social, vista a privatização da cidade, alijando os pobres das áreas nobres da cidade, no surgimento das favelas. “Em Gaza a precarização se dá em função de uma política de cerco e destruição sistemática da infraestrutura urbana com uso de força militar“. Aqui a comparação reside na militarização como um “problema urbano que aproxima realidades tão distintas, ainda que exclusivamente pela questão da militarização do urbano“. Tanto na Faixa de Gaza como no Rio de Janeiro o autor observa o discurso do “caos” e do “medo” para justificar intervenções militares nas cidades, no terreno urbano, visando o combate aos  “traficantes, criminosos, insurgentes e terroristas“.

A guerra urbana não só intenciona combater o inimigo, “mas também punir toda a sociedade-alvo“. No Rio de Janeiro notamos a destruição não necessariamente do aspecto físico da cidade, mas a anulação dos espaços públicos por causa da constante sensação de violência e medo provocados entre policiais e traficantes, ou disputas entre diferentes facções do tráfico. Ao contrário do que ocorre em Gaza, nas ruas das cidades do Rio de Janeiro não há uma guerra regular, mas os conflitos ocasionados por políticas urbicidas de contenção e militarização do terreno urbano, levam a situações mais graves. Nesse contexto, apesar das diferenças, Mendonça propõe um questionamento da existência de um tipo de “urbicídio” presente tanto no Rio quanto na Faixa de Gaza, negando aos cidadãos não só direitos sociopolíticos, mas também o direito à vida. 

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Artigo

MENDONÇA, Márcio José. A cidade como espaço de batalha: de Gaza ao Rio de Janeiro. GEOUSP: Espaço e Tempo (Online), São Paulo, v. 21, n. 3, p. 685-702, mar. 2018. ISSN: 2179-0892. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2179-0892.geousp.2017.105565. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/geousp/article/view/105565>. Acesso em: 07 jan. 2019.

Contato

Márcio José Mendonça – Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo – Ufes. marcioriei@hotmail.com

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