O relato de Flora Tristan: tensão entre o ser e o parecer de uma pária

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DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2022.192002

Palavras-chave:

Semiótica tensiva, Século XIX, Flora Tristan, Feminismo

Resumo

Neste artigo, apresentaremos o relato de viagem de Flora Tristan, no seu livro Peregrinações de uma pária (2000 [1838]). O objetivo consiste em apreender, a partir dos aspectos sensíveis da obra, o seu projeto enunciativo e, mais especificamente, como se dá a construção do seu arco tensivo (MANCINI, 2020). Trata-se de um esforço em conceber os preconceitos relacionados ao ser mulher, sobretudo no que se refere à esfera matrimonial, compreendidos a partir do ponto de vista da militante. O uso da semiótica tensiva nos permitirá refletir sobre os momentos átonos e tônicos do relato de uma mulher do século XIX, consciente da sua situação: sem direito a se divorciar do marido, à herança paterna, à liberdade. Destacamos, sobretudo, a compreensão das estratégias sensíveis para levar o enunciatário proposto a se sensibilizar com as mazelas enfrentadas por aquela que se encontrava à margem da sociedade, nos baseando, ademais, nos graus de veridicção e na noção de belo gesto. Eis o relato de uma pária para a sociedade, sem a autorização de viver como o seu verdadeiro ser.

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Biografia do Autor

  • Vanessa Pastorini, Universidade de São Paulo

    Doutoranda do programa de Semiótica e Linguística Geral da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil.

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Publicado

2022-04-20

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

O relato de Flora Tristan: tensão entre o ser e o parecer de uma pária. (2022). Estudos Semióticos, 18(1), 149-167. https://doi.org/10.11606/issn.1980-4016.esse.2022.192002