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Editores se posicionam sobre investimento da Capes em publisher internacional

Por Germana Barata

A comunidade de editores científicos brasileira foi pega de surpresa no dia 29 de outubro quando a Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior – anunciou que lançará dois editais para internacionalizar 100 revistas científicas brasileiras por meio de contrato com editora estrangeira. A reunião contou com a presença apenas de alguns editores brasileiros e cinco publishers estrangeiros (Elsevier, Emerald, Springer, Taylor & Francis e Wiley), mas não incluiu representantes da Associação Brasileira dos Editores Científicos (Abec) nem do SciELO – maior repositório de publicações científicas de acesso aberto do país e um dos maiores do mundo.

Reunidos esta semana no VIII Workshop de Editoração Científica em Campos do Jordão, a Abec, por meio de seu presidente Sigmar de Melo Rode, e o SciELO, na figura de de Abel Packer, seu coordenador, preparam carta à Capes em reação à proposta da Capes. As editoras brasileiras, por sua vez, preparam manifesto em repúdio ao edital que deveria priorizar o mercado nacional.

Embora editores científicos enxerguem pontos positivos na proposta da Capes, como a possibilidade de internacionalizar, dar visibilidade e profissionalizar as revistas brasileiras, eles cobram transparência na divulgação e diálogo com a comunidade. Apesar de ainda não anunciado, representantes de editoras brasileiras e editores científicos, presentes no evento, estimam investimentos da Capes na ordem de US$ 10 milhões (R$ 25 milhões) direcionados a apenas um publisher. Para efeitos comparativos, o CNPq encerrou no último dia 7 edital (n.25/2014) de R$6 milhões para apoio a editoração e publicação de revistas científicas.

Dentre os itens questionados pelos editores brasileiros está se as revistas das 48 áreas do conhecimento serão priorizadas e se um único publisher terá condições de atender às especificidades de cada uma delas; se os editores manterão a autonomia sobre a editoração das publicações e se poderão determinar quais serviços gostariam de contratar ou se terão que aceitar um pacote fechado; quanto tempo vai durar o apoio financeiro da Capes e se as revistas terão sustentabilidade financeira para atender aos novos padrões estabelecidos pelas editoras internacionais, além de maior transparência na escolha prévia das cinco editoras internacionais.

Sustentabilidade financeira

O Brasil é celebrado pela comunidade científica internacional por praticar o acesso aberto, sobretudo aquele chamado de via verde, em que não há cobrança de taxa de publicação e os conteúdos são publicados em repositórios, como o SciELO e Portais de Periódicos das universidades, onde seu acesso é livre, gratuito. A sustentabilidade desse modelo, no entanto, tem sido questionada em função dos crescentes custos das revistas, sobretudo com a adoção dos novos critérios estabelecidos pelo SciELO, como a conversão de arquivos para linguagem de XML (Linguagem Extensível de Marcação Genérica), que passa a ser obrigatória a partir de janeiro de 2015. Outros estão previstos para 2016 e que deixarão as revistas científicas brasileiras ainda mais caras, por exemplo com a necessidade de inclusão de um maior percentual de artigos em inglês, o que exigirá investimentos em tradução e revisão do idioma.

As editoras internacionais defendem o modelo de acesso aberto em via dourada, aquele em que o autor ou a instituição paga para publicar artigos e garantir seu acesso livre, gratuito. A mudança no modelo de negócios das grandes editoras científicas internacionais começou a mudar mais bruscamente a partir de 2012 quando a comunidade científica internacional anunciou boicotes à maior editora científica do mundo, a holandesa Elsevier. O boicote teve um efeito avalanche que atingiu outras editoras que seguiam a política do pague para publicar e pague para ler os artigos.

Atualmente, algumas revistas brasileiras já cobram taxas de publicação, como meio de gerar receita para custear a revista. A Revista de Saúde Pública, da USP, indexada no SciELO, cobra de R$ 1500 para artigos originais, revisões e comentários a R$ 1000 para comunicações breves, enquanto o Brazilian Journal of Medical and Biological Research, também no SciELO,cobra R$ 2200 para autores brasileiros.

De acordo com Antonio Martins Figueiredo Neto, editor da Brazilian Journal of Physics, que saiu do SciELO em 2010 e passou a ser editada pela Springer, o processo de submissão, análise e produção profissional passou a ser completamente distinto. O resultado, garante, é que “a visibilidade da revista aumentou, o que se reflete no número de submissões”. Por outro lado, a revista BJP hoje tem acesso fechado. Figueiredo Neto afirma que o custo de R$20 mil por edição é financiado pelo CNPq. “Há, entretanto, uma expectativa que a revista receba royalties da Springer, resultado da venda das assinaturas, e passemos a ser auto-sustentáveis em alguns anos”, pontua.

Ainda não se sabe quando a Capes oficializará os editais para contratação de um publisher e seleção das top 100 revistas científicas, mas uma coisa é certa, a proposta já aumentou a visibilidade e o impacto da comunidade de editoras e editores e científicos brasileiros.

Leia mais:

– Quanto custa publicar em acesso aberto?

Quanto custa publicar em acesso aberto?. SciELO em Perspectiva. [viewed 17 November 2014]. Available from: http://blog.scielo.org/blog/2013/09/18/quanto-custa-publicar-em-acesso-aberto

– Apresentação de Abel Packer sobre “Novos critérios SciELO para indexação de periódicos” durante o VIII Workshop de Editoração Científica no dia 11 de novembro de 2014
http://www.abecbrasil.org.br/includes/eventos/viii_workshop/palestras/terca/AbelPacker.pdf

Publicado originalmente em ComCiência

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