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A importância da sensibilização do olhar na formação do antropólogo

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP, São Paulo, Brasil

Qual a relação entre Antropologia e Fotografia? O antropólogo, como cientista social, tem como material principal de estudo leituras e conhecimento de conceitos teóricos aprendidos em livros de especialistas e professores da área.

Um antropólogo não prescinde “do verbo”, e, assim, as palavras exercem uma função básica na formação do cientista social – palavras, textospertinentes à reflexão antropológica que abordam diferentes culturas, que registram os aspectos raciais, étnicos, econômicos e diversidades culturais, em análise minuciosa da “sociedade, organização, estrutura”. No artigo da revista GIS – Gesto, Imagem e Som – Revista de Antropologia, Sylvia Caiuby Novaes, considera que, como antropóloga, essa formação é fundamental.

A autora, nesse artigo, mostra um novo foco revelado a ela quando na Escola de Arte Brasil: o estudo da antropologia ao lado da fotografia. Ela escolheu substituir o enfoque – “do verbo para o comportamento, o corpo, os gestos, os detalhes sobre os quais nem sempre é possível falar”, associar a narrativa com a imagem fotográfica, abordagem em que a sensibilização do olhar” despertou-lhe a necessidade de “criar repertórios“, na medida em que a pesquisa de campo do antropólogo, com a cumplicidade da fotografia, possibilita “proximidade, de intimidade e empatia, a decisão sobre o que estará ou não em foco.” A postura de Novaes se respalda na gama variada de inter-relações da Antropologia com diferentes áreas do conhecimento: “História, a Linguística, a Psicologia, a Medicina, o Direito, a Economia, e as Artes”.

A Escola de Artes Brasil, experimental, responsável pela escolha da autora pela dedicação à Antropologia Visual, apresentou-lhe a arte como espaço de liberdade interdependente com a vida real. Ali a educação estética era ensinada pelo estímulo à sensibilidade, pois o processo criativo é o principal objetivo da aprendizagem, e não seu resultado. Contando com novas formas e meios de “fazer arte”, os alunos aprendiam a desenhar por método de observação, desenhar sem olhar o que estava sendo desenhado. Grandes artistas como Wesley Duke Lee e Claudia Andujar frequentavam a escola que ousava propor novas peculiaridades e contextos artísticos. O apuro da observação era tão considerado que, segundo Novaes, seu grupo fotografava “sem nenhuma câmera”, ou seja, “com os indicadores e o polegar das duas mãos fazíamos o melhor enquadramento do que estava sendo observado”.

O artigo valoriza a sensibilidade do olhar como essencial na formação do antropólogo, já que é preciso ousar “sair dos livros, […], descobrir ângulos que não suspeitávamos”, observando os detalhes pormenorizados de nossa vida e da sociedade à nossa volta, usufruir de espaços que se fecharam há muito tempo, por vários motivos que não mencionaremos agora: o prazer de andar nas ruas,  olhar as lojas, abrir os vidros dos carros, habitar mais casas e não tanto apartamentos, observar crianças brincando nas ruas e adolescentes não se enclausurando com micros em quartos trancados. Ressalta-se que o enclausuramento existe muito antes da pandemia, esta, inegavelmente, piorou muito a situação.

A pesquisa destaca que a questão do “repertório”, a bagagem de nossos conhecimentos e experiências é que determinará nosso olhar para o ato de fotografar, pois, citando o filósofo francês Henri Bergson, “o olho só vê o que a mente está preparada para conhecer”, nosso olhar se dilata de acordo com nosso “repertório” de vida, que varia de pessoa para pessoa. “A imagem frequentemente demonstra a insuficiência da palavra como documento da consciência social e como matéria prima do conhecimento”.

Nas pesquisas de campo, a fotografia se mostra um retrato mais fiel e verdadeiro para registro da sociedade, dos costumes, da cultura, enfim, de um grupo, de uma comunidade, do que as entrevistas e questionários, por exemplo, do momento em que a imagem capta, conta e relata melhor o corpo, os gestos, o comportamento dos indivíduos, da cultura ou situação do que se quer pesquisar.

Dentre as Ciências Sociais, afirma Novaes, é a Antropologia “que mais se aproxima do lado sensível da realidade social em que todas se debruçam” e a que mais se relaciona com as artes, pois os antropólogos estão mais dispostos a imergirem mais profundamente, quando também se valem das artes, nos diferentes universos que as culturas nos proporcionam.

A proposta é de observar a imagem como linguagem, a complementar o trabalho do registro antropológico, visto que “ninguém fotografa a realidade ou a sociedade”, mas a fotografia permite, para a pesquisa, um “mergulho que é, ao mesmo tempo, sensível e inteligível”, que a autora sugere aos colegas praticarem – inserirem a fotografia como meio colaborativo e esclarecedor para a disciplina da Antropologia.

Artigo

NOVAES, Sylvia Caiuby. Por uma sensibilização o olhar – sobre a importância da fotografia na formação do antropólogo. GIS – Gesto, Imagem e Som – Revista de Antropologia, São Paulo, v.6, n. 1, e-179923, 2021. ISSN: 2525-3123. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2525-3123.gis.2021.179923. Disponível em:https://www.revistas.usp.br/gis/article/view/179923. Acesso em: 10 fev. 2021.

Contato

Sylvia Caiuby Novaes -Antropóloga, professora titular no Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo, coordenadora do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia – LISA e do Grupo de Antropologia Visual -GRAVI e pesquisadora da FAPESP e do CNPq. e-mail:  scaiuby@usp.br

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