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Ciência e a arte – Quem disse que não pode?

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP

O Dossiê sobre Georges Canguilhem é uma homenagem da Intelligere – Revista de História Intelectual ao filósofo, médico e historiador francês, cuja obra vem provocando, há mais de duas décadas, grande interesse motivado pela atualidade e pertinência de seu pensamento original a respeito não só da teoria, mas também da prática da  história das ciências da vida e da medicina. As diferentes concepções de ciência e de como esta se relaciona com outras áreas do conhecimento, as relações entre as várias ciências e o que se considera como não ciência é o que Queiroz discute em seu artigo publicado na revista acima mencionada.

Canguilhem é referência hoje quando se pensa, estuda-se ou pesquisa-se sobre conhecimento, ciência e razão, quando se pretende “escapar às opções de realismo ou relativismo, racionalismo ou irracionalismo e similares“. Queiroz cita a historiadora e psicanalista Elisabeth Roudinesco, a qual põe Canguilhem ao lado de grandes filósofos como Sartre e Foucault, como exemplo do pensamento atual e moderno sobre o assunto: “Todos eles recusaram, à custa do que eu chamaria de uma travessia da tormenta, transformar-se em servidores de uma normalização do homem, a qual, em sua versão mais experimental, não passa de uma ideologia da submissão a serviço da barbárie“.

Partindo do pressuposto de considerar tudo o que é criado pelo ser humano como história e como arte, e, sendo a ciência um fator definido da cultura, o autor propõe: “Pode-se pensar então, a ciência como cultura e a ciência como história? Ou como arte, como Canguilhem se refere à medicina?” Para Queiroz, arte e ciência não são esferas opostas e incompatíveis, já que arte e ciência floresceram juntas: da Grécia antiga ao começo do século XX. O autor observa que o conhecimento que está ao nosso alcance, transmissível, não abrange apenas as ciências, ou o que consideramos como tal: “A ciência e a arte já estiveram unidas por uma linguagem comum. Não são formas opostas ou excludentes de ver e compreender o mundo“.

Atualmente se nota que existem relações cada vez mais numerosas “[…] que ligam as ciências às letras, derrubando suas fronteiras” e, nas palavras do filósofo francês Roland Barthes: “é possível que essa oposição apareça um dia como um mito histórico”. Hoje, fatores que antes definiam o que é ciência, como as oposições: quantitativo-qualitativo, objetivo-subjetivo, determinístico-indeterminístico, “deixam de ser critérios absolutos para se definir o que é ciência ou não ciência“, esclarece Queiroz, e concorda também com o fato de a experimentação, característica tradicional das ciências, encontrar-se muito mais nas ciências sociais, por exemplo, do que geralmente acreditamos.

Novos caminhos estão sendo trilhados e novas discussões surgem a respeito da ciência, da cultura e do conhecimento. A tentativa de aproximá-los pode gerar tensão e desconforto, mas também “chegou o tempo de novas alianças, desde sempre firmadas, durante muito tempo ignoradas, entre a história dos homens, de suas sociedades, de seus saberes, e a aventura exploradora da natureza”, exemplifica o autor, citando as palavras de Ilya Prigogine e Isabelle Stengers. Concluindo, Queiroz salienta que Georges Canguillem soube lidar, de forma única, com realidades opostas, com o normal e o anormal, com a ciência e a não-ciência, pelo mesmo ângulo original de observação. 

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Artigo

QUEIROZ, Francisco Assis de. Ciência e não-ciência ou as “Duas Culturas”: dominação, quase hostilidade e quase diálogo.  Dossiê “Georges Canguilhem, a história e os historiadores”. Intelligere – Revista de História Intelectual, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 129-138, 2018. (Grupo de Pesquisa em História Intelectual. LabTeo – Laboratório de Teoria da História e História da Historiografia – DH/USP). ISSN: 2447-9020. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2447-9020.intelligere.2016.114511. Disponível  em: https://www.revistas.usp.br/revistaintelligere/article/view/114511. Acesso em: 15 mar. 2019.  

Contato 

Francisco Assis de Queiroz – Professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH USP). – e-mail: frantota@uol.com.br

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