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Artigo relata as críticas brasileiras do filme Hiroshima mon amour, um marco do cinema mundial que completa 60 anos

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP, São Paulo, Brasil

Cinema Le Louxor em Paris, via Wikimedia Commons por         Reinhardhauke. Arquivo: Paris Cinéma Le Louxor 7194

Hiroshima mon amour é um daqueles filmes que marcaram época, inesquecível tanto para quem gostou quanto para quem não gostou, pois é uma obra provocativa, um divisor de águas na cinematografia mundial, por suas renovações estéticas, pela linguagem e pela forma da narrativa, o que causou grande choque e repercussões positivas e negativas nos críticos, “motivando um caloroso debate refletido nos inúmeros artigos publicados sobre o filme”, pela ousadia da proposta de um novo modo de fazer cinema.

Hiroshima mon amour foi dirigido pelo cineasta francês Alain Resnais, em 1959, e a revista Literatura e Sociedade, recém-publicada, presta uma homenagem pelo aniversário de 60 anos desse filme emblemático. Alessandra Brum nos traz uma perspectiva de como o filme foi recebido no Brasile as “principais ideias que nortearam e inquietaram os principais críticos de cinema em atividade da época”.

O filme teve como base o romance de mesmo nome de Marguerite Duras, escritora francesa que conseguiu abordar a tragédia causada pela bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, introduzindo diálogos poéticos permeados pelo fator memória, evidenciado em uma história de amor, cujo personagem principal é uma mulher, o que significa mais uma ruptura com o convencionalismo da época.

O filme não foi exibido na época no Festival de Cannes por questões políticas, e, quando exibido, na França e no Brasil, causou polêmica pela introdução de ousados elementos da linguagem cinematográfica, tornando-se “o mais discutido filme na imprensa e nas revistas especializadas”. 

Segundo a pesquisa da autora, os críticos brasileiros já tinham opinião favorável ao filme mesmo antes de ser exibido, o que ocorreu em 30 de agosto de 1960, sendo tema de artigos e ensaios que poucos filmes foram capazes de inspirar.

O artigo se propõe a mostrar as principais opiniões dos críticos de cinema no Brasil sobre o filme de Alain Resnais. A questão que intrigava críticos e público era: “como um filme poderia ser tão ousado a ponto de fundir cinema com literatura? Considerado por muitos como “obra inavaliável”, o filme destaca o diálogo entre as imagens de forma inovadora, conjugando cinema e literatura, um “cinema lírico”, que ressalta a fala dos personagens.

Hiroshima mon amour foge dos parâmetros hollywoodianos, na medida em que o tempo presente se confunde com o tempo passado, tratados “como elementos de continuidade e interação entre as ações do passado com as do presente”.

Um “filme-ruptura”, o “cinema subjetivo” eram expressões que se referiam ao filme. Outros críticos, no entanto, não viram com bons olhos a primazia da palavra, da literatura sobre a imagem, esta última declarada como alma do cinema. Alain Resnais sintoniza seu filme com o romance e o roteiro de Marguerite Duras, que “faz da subjetividade humana o elemento central de sua narrativa”.

Brum lamenta o fato de não ter encontrado referência, no Brasil, à literatura da escritora. Nesse contexto, observa-se, na década de 1960, que a maioria dos críticos eram homens e não se tem notícia de nenhuma crítica feminina ao filme na época. Ao invés do cinema-espetáculo, Alain Resnais estimula a reflexão, pois Hiroshima mon amour é um filme que trata da tragédia de Hiroshima com a sensibilidade de um poeta.

Recursos como a subjetividade, o tempo da memória e do esquecimento, muito mais literários do que cinematográficos, são debatidos para se criar “um novo plano na narrativa, o plano da memória que se apresenta como expressão da memória do personagem”, inovação estética que remete à “lógica do pensamento humano”.  Mas quem assiste ao filme hoje não terá mais a sensação de quem assistiu na década de 1960, e, apesar de ser visto como “cinema de futuro” pelo crítico José Lino Grünewald, atualmente não há filmes parecidos com esse, ele não fez escola.  

Brum afirma que em Hiroshima mon amour encontramos os elementos necessários para ampliar o referencial do cinema como expressão poética”. O filme encanta por mostrar o convívio, pelo menos na arte, dos horrores de uma catástrofe com a beleza da vida, nas imagens e palavras dos amantes, extraindo-se um lirismo inusitado da situação em que se encontram.

Alain Resnais, nesse filme, lida, por intermédio das cenas, imagens e diálogos, com a memória e o desejo de esquecimento e deixa a reflexão: como esquecer um amor e as feridas que ele provocou, como esquecer as consequências irreparáveis do desastre de Hiroshima?

Artigo

BRUM, A. Panorama da recepção crítica de Hiroshima mon amour no Brasil. Literatura e Sociedade, São Paulo, v. 25, n. 31, p. 100-112, 2020. ISSN: 2237-1184. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2237-1184.v0i31p100-112 Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ls/article/view/177036 Acesso em: 01 dez. 2020.

Contato

Alessandra Brum -Pesquisadora da Universidade Federal de Juiz de Fora e autora do livro Hiroshima mom amour e a recepção da crítica no Brasil (2014). alessandra.brum@ufjf.edu.br

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