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O haicai oriental como ponto de partida para a escrita de Roland Barthes

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP, São Paulo, Brasil

“Poesia = sutileza em um mundo bárbaro”

O haicai oriental como ponto de partida para a escrita de Roland Barthes

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O haicai, poema oriental composto de 5, 7 e 5 sílabas, serve de modelo para a construção narrativa dos ensaios de Roland Barthes, proposta em A preparação do romance (2003). Nessa obra, o pensador francês investe em um novo projeto de escrita, a promessa de um novo olhar sobre a relação entre literatura e história, privilegiando, em seus trabalhos, não mais esta última, mas a técnica, o presente e apreensão do instante, a subjetividade e a fantasia.

Marcio Renato Pinheiro da Silva, em artigo recém-publicado na revista Criação e Crítica (n. 14, 2015), compara a primeira obra de Barthes, O grau zero da escrita, com A preparação do romance, seu último curso proferido no Collège de France, analisando as múltiplas inter-relações entre história, escrita e subjetividade, e investiga como acontecem as mudanças de narrativa nos trabalhos do pensador francês. A opção pela poesia, segundo Silva, é a grande responsável pela mudança de foco nos escritos de um dos maiores intelectuais do século 20: “Poesia=prática da sutileza em um mundo bárbaro…, ela não é decadente, ela é subversiva: subversiva e vital.”, na declaração do próprio Barthes.

De acordo com a análise do articulista, em O grau zero da escrita, a literatura se situa como estreitamente relacionada com a vida social e a história, com o privilégio desta última, em detrimento do estilo: “a poesia moderna está saturada de estilo”, diz Barthes. Mas, em A preparação do romance, nota-se que a subjetividade prevalece e a história fica de lado: “a subjetividade ascende a um primeiro plano, resultando à história um papel absolutamente secundário”, afirma Silva.

Se, na primeira obra, o ensaísta, crítico, semiólogo, filósofo e escritor Roland Barthes lida com a ciência e abomina o estilo na poesia, pois compromete a história, em A preparação do romance dá-se o contrário, analisa o articulista, pois Barthes toma a estrutura narrativa da poesia como ideal, na preferência pelo haicai, ou seja, pela forma, pela técnica, pela valorização do presente e da fantasia – é o que afirma o especialista: “Se à crítica escapam o gozo e o presente, o encantamento próprio ao haicai […] trata de inverter os termos, recuperando-os em detrimento da cultura”.

Assim, Silva observa que a escolha de Barthes pelo haicai se deve à proposta de elaboração de um projeto de escrita que se atenha às questões técnicas, pois é a ciência dando lugar à forma: o não mais “o querer saber como é feito”, visto em O grau zero da escrita, mas sim, o “saber como é feito para refazê-lo”, em A preparação do romance, nas palavras de Barthes.

O autor do artigo põe em pauta alguns tópicos na análise de A preparação do romance: Em “ética e escrita”, tem-se esta última pensada como forma, como técnica, fantasia, em detrimento de qualquer ideologia, adentrando-se, assim, no campo da subjetividade e da ética. Em “presente e notação”, observa-se a anotação como meio de registro do presente, motivo pelo qual o haicai se insere como solução técnica para a escrita: “… o ensaísta opta pela ‘forma breve que amo entre todas e que é como a própria essência da Notação: o haicai'”, citando o filósofo francês. Em “contraponto e fuga”, a multiplicidade e a complexidade das relações entre literatura e história, em Barthes, vêm à tona, pois o passado, ainda que em segundo plano, serve ao presente, na medida em que é “revelador de uma série de ambivalências do próprio presente”.

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Artigo

SILVA, Marcio Renato Pinheiro da. Roland Barthes, da História ao Haicai. Revista Criação & Crítica, São Paulo, n. 14, p. 60-75, jun. 2015. ISSN 1984-1124. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/criacaoecritica/article/view/90063>. Acesso em: 17 Jul. 2015. doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.1984-1124.v0i14p60-75.

Contato

Marcio Renato Pinheiro da Silva – Professor de Teoria Literária na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e pós-graduando na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-Fapesp). E-mail: criacaoecritica@gmail.com

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