Preditores biopsicossociais de incapacidade física e depressão em trabalhadores do setor de frigoríficos atendidos em um programa de reabilitação profissional

Autores

  • Jamir João Sardá Junior Universidade do Vale do Itajaí - Univali
  • Emil Kupek Universidade Federal de Santa Catarina
  • Roberto Moraes Cruz Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2317-0190.v16i2a103171

Palavras-chave:

Doenças Ocupacionais, Ambiente de Trabalho, Questionários, Reabilitação

Resumo

Um grande número de trabalhadores é acometido por doenças ocupacionais que tem, dentre seus sintomas, dores crônicas, incapacidade e depressão. Embora existam evidências sobre a contribuição de fatores relacionados ao ambiente de trabalho e fatores orgânicos em quadros de doenças ocupacionais, a incapacidade e a presença de depressão associadas a essas condições são fenômenos multifatoriais mediados por aspectos biopsicossociais. O presente artigo examina as relações entre fatores clínicos, ambientais, demográficos e incapacidade, depressão em uma população de trabalhadores do setor de frigoríficos (n=234) atendidos por um programa de reabilitação profissional. Este estudo pode ser descrito como de corte transversal, utilizando análises estatísticas descritivas e inferenciais (regressões multivariadas). Os dados foram coletados utilizando um questionário demográfico e clínico, o Questionário Roland e Morris, a escala de depressão do HADS e a Medida de Independência Funcional – MIF. Os resultados demonstraram que em todos os instrumentos utilizados, o escore final (após reabilitação) foi fortemente determinado pelo escore inicial (antes da reabilitação), com pouca influência das outras variáveis independentes. A mudança nos níveis de incapacidade parece estar associada a presença de ganho financeiro (p=0.057). O escore final do MIF foi inversamente relacionado com o tempo de afastamento (p=0.006). A variação dos escores finais entre as categorias do CID-10 não foi estatisticamente significativa para nenhum desfecho. De maneira geral, a maior prevalência de mulheres dentre os trabalhadores afastados, e a prevalência de doenças músculo-esqueléticas e depressão, ou a associação de ambas. A variável idade foi preditor de incapacidade (RM) e a variável tempo de afastamento foi preditora de incapacidade para o trabalho medida pelo MIF. Nenhuma das variáveis examinadas contribuiu para a mudança dos escores de depressão. De maneira geral, os resultados são consistentes com os achados descritos na literatura e, confirmam que diversos fatores contribuem para a incapacidade e depressão de trabalhadores com diagnóstico de doenças ocupacionais, tal como preconizado pelo modelo biopsicossocial.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

Gjessing CC, Schoenborn TF, Cohen A. participatory ergonomic intervention in meat packing plants. Cincinnati: The National Institute for Occupational Safety and Health; 1994.

Disler PB, Pallant JF. Vocational rehabilitation. BMJ. 2001;323(7305):121-3.

Romano JM, Turner JA. Chronic pain and depression: does the evidence support a relationship? Psychol Bull. 1985;97(1):18-34.

Magni G, Marchetti M, Moreschi C, Merskey H, Luchini SR. Chronic musculoskeletal pain and depressive symptoms in the National Health and Nutrition Examination. I. Epidemiologic follow-up study. Pain. 1993;53(2):163-8.

Iguti AM, Hoehne EL. Lombalgias e trabalho. Rev Bras Saúde Ocup.2008;28(107-108):73-89.

Figueiró JAB. Aspectos psicológicos e psiquiátricos da experiência dolorosa. In: Carvalho MMMJ. Dor: um estudo Multidisciplinar. Sao Paulo: Summus; 1999. p.140-58.

Novello VL, Barros GA, Danziato AM, Cardoso MA, Forlim CF, Bernardo TC, et al. Evaluation of the life quality, anxiety and depression symptoms in a multidisciplinary program for fibromyalgia; 1995; Sydney. Abstracts of 11th World Congress on Pain. Sydney: IASP; 2005. p.257.

Lancman S. Reabilitaçao profissional e a reinserçao social de portadores de distúrbios mentais relacionados ao trabalho [resumo]. In: 3º Congresso Reabilitaçao Profissional de Acidentados no Trabalho; 2008 Outubro 14-15; Sao Paulo, Brasil.

Engel GL. The need for a new medical model: a challenge for biomedicine. Science. 1977 Apr 8;196(4286):129-36.

Waddell G, Burton AK. Concepts of rehabilitation for the management of low back pain. Best Pract Res Clin Rheumatol. 2005;19(4):655-70.

Teasell RW, Bombardier C. Employment-related factors in chronic pain and chronic pain disability. Clin J Pain. 2001;17(4 Suppl):S39-45.

Linton SJ. A review of psychological risk factors in back and neck pain. Spine. 2000;25(9):1148-56.

Pincus T, Burton AK, Vogel S, Field AP. A systematic review of psychological factors as predictors of chronicity/disability in prospective cohorts of low back pain. Spine. 2002;27(5):109-20.

Manek MJ, MacGregor AJ. Epidemiology of back disorders: prevalence, risk factors,and prognosis. Curr Opin Rheumatol.2005;17(134-40).

Kendall NAS, Linton S, J., Main CJ. Guide to assessing psychosocial yellow flags in acute low-back pain: risk factors for long-term disability and work loss. Wellington: Accident Rehabilitation and Compensation Insurance Corporation of New Zealand and the National Health Committee; 1997.

Marhold C, Linton SJ, Melin L. Identification of obstacles for chronic pain patients to return to work: Evaluation of a questionnaire. J Occup Rehabil. 2002;12(2):65-75.

Hagen KB, Tambs K, Bjerkedal T. What mediates the inverse association between education and occupational disability from back pain? a prospective cohort study from the Nord-Trondelag health study in Norway. Soc Sci Med. 2006;63(5):1267-75.

Pincus T, Williams A. Models and measurements of depression in chronic pain. J Psychosom Res. 1999;47(3):211-9.

Berber JDSS, Kupek E, Berber SC. Prevalência de depressao e sua relaçao com a qualidade de vida em pacientes com síndrome da fibromialgia. Rev Bras Reumatol. 2005;45(2):47-54.

Sartorius N. The economic and social burden of depression. J Clin Psychiatry. 2001;62 Suppl 15:8-11.

Botega NJ, Bio MR, Zomignani MA, Garcia C, Pereira WA. Transtornos do humor em enfermaria de clínica médica e validaçao de escala de medida (HAD) de ansiedade e depressao. Rev Saúde Pública. 1995;29:355-63.

Sardá Junior JJ, Nicholas MK, Pimenta CAM, Asghari A, Corrêa CF, Oswaldo JJ, et al. Validade e fidedignidade do Questionário Roland Morris de incapacidade em uma populaçao de brasileiros com dor crônica [resumo]. Rev Dor Pes Clin Ter. 2006;7(supl):7. [Apresentado no 7º Congresso Brasileiro de Dor; 2006; Gramado, RS].

Roland M, Morris R. A study of the natural history of back pain. Part I: Development of a reliable and sensitive measure of disability in low-back pain. Spine 1983;8(2):141-4.

Robinson JP. Disability evaluation in painful conditions. In: Turk DC, Melzack R, editors. Handbook of pain assessment. 2 ed. New York: Guilford Press; 2001. p. 248-72.

Roland M, Fairbank J. The Roland-Morris Disability Questionnaire and the Oswestry Disability Questionnaire. Spine. 2000;25(24):3115-24.

Riberto M, Miyazaki MH, Jucá SSH, Sakamoto H, Potiguara P, Pinto N, et al. Validaçao da Versao Brasileira da Medida de Independência Funcional. Acta Fisiatr. 2004;11(2):72-6. Doi: https://doi.org/10.5935/0104-7795.20040003

Riberto M, Miyazaki MH, Sakamoto H, Jorge Filho D, Battistella LR. Reprodutibilidade da versao brasileira da Medida de Independência Funcional. Acta Fisiatr. 2001;8(1):45-52. Doi: https://doi.org/10.5935/0104-7795.20010002

Flor H, Hermann C. Biopsychosocial models of pain. In: Dworkin RH, Breitbart WS, editors. Psychosocial aspects of pain: a handbook for health care providers. Seattle: IASP Press; 2004. p.47-78.

Turk DC, Okifuji A. Psychological factors in chronic pain: evolution and revolution. J Consult Clin Psychol. 2002;70(3):678-90.

World Health Organization. Towards a Common Language for Functioning, disability and Health. The International Classification of Functioning, Disability and Health. Geneva: World Health Organization; 2002.

Kovacs F, Abraira V, Zamora J, del Real TGM, Llobera J, Fernández C. Correlation between pain, disability, and quality of life in patients with common low-back pain. Spine.2004;29(2):206-10.

Sardá Junior JJ. Investigation of a biopsychosocial perspective of pain in Brazilian chronic pain patients [PhD]. Sydney: The University of Sydney; 2007.

Nicholas MK, Asghari A. Investigating acceptance in adjustment to chronic pain: is acceptance broader than we thought? Pain. 2006;124(3):269-79.

Adams JH, Williams AC. What affects return to work for graduates of a pain management program with chronic upper limb pain? J Occup Rehabil. 2003;13(2):91-106.

Vowles KE, Gross RT, Sorrel JT. Predicting work status following interdisciplinary treatment for chronic pain. Eur J Pain. 2004;8(4):351-8.

Sardá Jr JJ, Nicholas MK, Pimenta CA, Asghari A. Psychometric properties of the DASS-Depression scale among a Brazilian population with chronic pain. J Psychosom Res. 2008;64(1):25-31.

Downloads

Publicado

2009-06-09

Edição

Seção

Artigo Original

Como Citar

1.
Sardá Junior JJ, Kupek E, Cruz RM. Preditores biopsicossociais de incapacidade física e depressão em trabalhadores do setor de frigoríficos atendidos em um programa de reabilitação profissional. Acta Fisiátr. [Internet]. 9º de junho de 2009 [citado 5º de maio de 2024];16(2):76-80. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/actafisiatrica/article/view/103171