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O protesto e suas contradições – O grito de guerra cantado no teatro brasileiro antes e depois de 1964

Release de Margareth Artur para o Portal de Revistas da USP, São Paulo, Brasil

“Podem me prender, podem até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião” – Até que ponto?

Logo após instalada a ditadura no Brasil, com  o Golpe Militar de 1964, o show Opinião, no Rio de Janeiro, e a peça Arena conta Zumbi, em São Paulo, dois ícones da produção cultural da época, foram as primeiras iniciativas artísticas de resistência ao arbitrarismo do governo. Porém, com o surgimento da cultura de massa, esses protestos se tornaram “um lucrativo e paradoxal segmento de mercado”, atendendo tanto à indústria cultural quanto aos artistas que viam nisso alcance e visibilidade para suas obras.

As contradições desse período, entre 1965 e 1968, são percebidas na interpretação de Maria Betânia para a canção  “Vivo num tempo de guerra”, da peça Arena conta Zumbi, e nas críticas inesperadas do diretor Augusto Boal. A análise de Paulo Bio Toledo, em seu artigo publicado na revista Sala Preta, mostra-nos os protestos, na arte brasileira, especificamente no teatro e na música, contra o golpe de Estado e a discussão sobre a autenticidade dessas reivindicações.

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O autor explica que se o show Opinião, dirigido por Augusto Boal, tinha nos versos “podem me prender, podem me bater, podem até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião” seu grito de guerra, em Arena conta Zumbi também há indignação contra a ditadura. Mas então os paradoxos são percebidos quando Maria Betânia, a “diva sertaneja” do Opinião também se torna a “heroína da resistência popular”, pela interpretação na famosa peça. A repetição dessa “assinatura musical” da cantora, absorvida inteiramente pelo mercado fonográfico, parecia ser “caso pensado, formulação estratégica que já leva em conta, agora, os desejos do segmento que se quer alcançar […] um lucrativo e paradoxal segmento de mercado, a canção de protesto“.

O mesmo acontece em “Vivo num tempo de guerra”, a principal música de Arena conta Zumbi, que, em uma análise mais distanciada no tempo, é vista como símbolo da dualidade da canção de protesto, pois “ao mesmo tempo em que mostra a força e o alcance da fração social resistente à ditadura, vem para atender a um novo segmento de mercado ávido por consumir souvenirs da revolução que não aconteceu“, nas palavras de Paulo Bio Toledo.

De acordo com o autor, a primeira voz corajosa a perceber as contradições desses movimentos foi a de Augusto Boal, no programa Feira Paulista de Opinião, em 1968, em que ele critica, inesperadamente, a produção cultural pós 1964, mas, ao mesmo tempo, sua postura indica o quanto esse período foi regido pelos paradoxos, porque acaba também criticando a si mesmo e os “[…] artistas de esquerda que agora combatiam deliberadamente as posições culturais anteriores em defesa da ‘Arte’, com maiúscula, e das ‘possibilidades da cultura de massa‘”.

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Artigo

TOLEDO, Paulo Bio. A ambivalência do protesto no teatro e na canção no Brasil pós-1964. Sala Preta, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 180-190, jul. 2015. ISSN 2238-3867. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/96014>. Acesso em: 03 nov. 2015. doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-3867.v15i1p180-190.

Contato

Paulo Bio Toledo – Mestre e doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes  da Universidade de São Paulo
E-mail: paulo.v.bio@gmail.com

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